Concerto de Kim Deal honrou o legado de todas as mulheres que marcaram a década de 1990
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A tarde de hoje, no Primavera Sound Porto, foi uma congregação dos órfãos de nomes como L7, Hole, Babes in Toyland e todas as bandas de mulheres que existiam nos anos de 1990.
A plateia não deixava muito por adivinhar e alguém tinha uma t-shirt que levava escrito “England didn´t invent punk rock, girls did”. E para mostrar que esses formatos ainda existem e continuam a dar cartas havia um nome muito peculiar, as Horsegirl, trio formado por três jovens raparigas, que tocaram no fim de tarde e abriram a noite com um som cru e ruidoso que remete diretamente ao espírito do indie rock noventista — com ecos óbvios de bandas como Sonic Youth e Dinosaur Jr.
Apesar da sua energia e distorção cativante, notava-se uma certa desconexão entre a banda e o público, composto em grande parte por ouvintes mais adultos. Ainda assim, temas como “In Twos” conseguiram captar a atenção dos mais atentos, criando pequenos momentos de comunhão.
Entre outras curiosidades, estas raparigas de Chicago tocaram na celebração dos 30 anos das Breeders. Mas quando se pode ver o original, ver uma aproximação é sempre uma comparação odiosa. E o original estava no Primavera Sound, e tocou no palco principal logo a seguir a elas.
Kim Deal, mítica figura dos Pixies e líder incontestada das Breeders, tocou no Palco Porto e os órfãos destes dois colossos lá estavam para recebê-la de braços e pulmões bem abertos. Os temas de “Nobody loves you more” foram recebidos calorosamente, mas os fãs entusiastas gritavam pela sonoridade que Deal ajudou a definir.
“No Aloha” e temas como “Do You Love Me Now?” e “Cannonball” provocaram reações viscerais: mosh, gritos e pura catarse. Repentinamente, a população, agora quarentona, voltou a ser adolescente. Com “Driving All Night”, Kim Deal surpreendeu ao integrar agora uma nova roupagem com violoncelo e violino, dando novas camadas ao seu som característico.
O final, com “Gigantic”, foi apoteótico: uma celebração do passado que continua vivo e barulhento. As que eram as princesas do indie e do punk rock são agora rainhas e muito antes do feminismo ser “trend” já elas o reclamavam há muito, se bem que antigamente com mais distorção e agora de uma forma mais doce. Igualmente efetivo.