No dia da morte de Manoel de Oliveira, esta quinta-feira, aos 106 anos, multiplicam-se as reações e as homenagens ao seu legado, desde a esfera política à cultural.
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"Foi com profundo pesar que tomei conhecimento da morte de Manoel de Oliveira, símbolo maior do cinema português no mundo e um dos nomes mais significativos na história da 7.ª Arte. Portugal perdeu um dos maiores vultos da sua cultura contemporânea que muito contribuiu para a projeção internacional do País", afirmou o presidente da República, Cavaco Silva. O realizador "é um exemplo para as gerações futuras", na medida em que até ao fim da vida "teve projetos de futuro e foi sempre capaz de ultrapassar as dificuldades", acrescentou.
A presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, manifestou sua "profunda tristeza pela morte de Manoel de Oliveira" e destacou o caráter "sublime da sua arte" de realizador de cinema, que "libertava na sua infinita perfeição". "Manoel de Oliveira deixa-nos o sublime da sua arte, uma arte que a todos nos libertava na sua infinita perfeição. Como se o cinema que criou, por todos reconhecido, fosse a memória da nossa própria transcendência e o exemplo para a projetarmos nas coisas que fazemos", refere.
Apresentando as suas condolências, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, em comunicado refere-se a Oliveira como "a figura decisiva do cinema português no século XX" e como "obreiro central da afirmação da cinematografia portuguesa a nível internacional e, através do cinema, da cultura portuguesa e da sua vitalidade".
O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, decretou hoje três dias de luto municipal, assim demonstrando o "profundo pesar" da cidade e o "sentimento de perda coletiva".
"Decretei hoje três dias de luto municipal a partir de amanhã [sexta-feira], decisão que será posteriormente ratificada pelo executivo a que presido. É a primeira vez que o faço, esta é a forma mais institucional de demonstrar o profundo pesar de uma cidade e de transmitir ao mundo o sentimento de perda coletiva que hoje nos assolou", afirmou o presidente da câmara numa breve declaração à comunicação social.
Para Rui Moreira, Manoel de Oliveira não foi "um homem vulgar", nem "na genialidade, nem na personalidade, nem na longevidade, nem no predicado" que disse mais gostar de associar à cidade do Porto: "o caráter".
O presidente do F.C. Porto, Pinto da Costa, lamentou a morte do cineasta e "grande dragão" Manoel de Oliveira, aos 106 anos, considerando que "todo o país se devia curvar perante a memória deste grande homem".
"Lamento a perda de um amigo, de um grande cidadão, de um pioneiro do cinema, de um grande dragão, de um português de referência", afirma Pinto da Costa, em declarações ao sítio do FC Porto.
O presidente honorário do Festival de Cannes, Gilles Jacob, amigo e admirador da arte de Manoel de Oliveira, que faleceu hoje aos 106 anos, afirmou o seu pesar e disse sentir-se "um órfão".
"Tristeza. O meu querido Manoel morreu. Manoel de Oliveira tinha 106 anos e eu fiquei órfão como todo o cinema mundial. Ele era um cavalheiro", afirma Jacob, o presidente honorário do festival, na sua conta na rede social Twitter, noticia a Efe.
"Passados os cem anos, tínhamo-nos acostumado à ideia de que Manoel nunca desapareceria", disse Jacob, de 84 anos, que, em 2008, entregou ao realizador português a Palma de Ouro pela carreira do cineasta português..
O ex-diretor do Museu de Serralves, no Porto, João Fernandes, disse que, quando alguém como Manoel de Oliveira desaparece, a melhor forma de o celebrar será sempre criar condições para quem faz cinema em Portugal. Emocionado, disse esperar que os realizadores portugueses tenham "a mesma capacidade de lutar" e que consigam reunir as condições para trabalhar.
A atriz Leonor Silveira afirmou que o trabalho com o realizador Manoel de Oliveira, falecido aos 106 anos, lhe moldou a identidade e foi determinante no "rumo pessoal e profissional".
"O meu amor pelo Manoel transcende a partilha artística. Esta é uma perda insuperável, mas a memória que me deixa será sempre feliz. Eu era uma atriz improvável. Hoje ele é o meu Mestre e eu a sua musa", afirmou.
O fundador do Fantasporto, Mário Dorminsky, disse que o cineasta foi um "marco" no cinema mundial e um precursor do neorrealismo italiano, com "Aniki Bóbó", e do documentário, com o filme "Douro Faina Fluvial". "Creio que o Manoel de Oliveira nos deu muito. Ao longo de 60 anos deu a imagem de Portugal de um país de cultura, mas que na verdade é um país inculto", declarou.
O produtor de cinema Pedro Borges destacou a generosidade de Oliveira e a capacidade de resistir às tentativas de acabar com a sua carreira. Pedro Borges lembrou que a obra do cineasta "foi sendo regularmente objeto de escárnio e mal dizer, com diversas tentativas para acabar com a sua carreira".
O ator Rogério Samora, que trabalhou, com Oliveira em filmes como "Le soulier de satin" e "Party", vê a morte do realizador como "um grande museu ou um monumento, como o Convento de Cristo, que ardam". "Ele dava liberdade ao ator para criar dentro daquele contexto, era sim, muito exigente com a encenação, com os objetos em cena, com o espaço e com o movimento dos atores", recordou Samora emocionado.
A deputada Paula Santos, do PCP, lembrou o realizador como "uma figura ímpar da cultura portuguesa, lamentando profundamente o seu falecimento". Destacando o contributo que Manoel de Oliveira deu a Portugal, Paula Santos considerou que o realizador marcou um espaço próprio na cultura portuguesa.
A deputada e dirigente do CDS-PP Teresa Caeiro sublinhou o "orgulho" no legado de Oliveira, cuja morte, apesar da sua idade, foi recebida como "uma tristíssima surpresa", o cineasta que parecia "imortal" e que o será através da sua obra.
A porta-voz do BE, Catarina Martins, evocou Manoel de Oliveira como "um grande cineasta europeu" que moldou o cinema nacional e foi um exemplo de "energia, determinação, humor e grande vontade de viver".
"Trata-se de uma grande perda para Portugal, de uma figura ímpar da cultura portuguesa e da cultura mundial, com um percurso reconhecido quer no plano nacional quer no plano internacional, que deixa a cultura portuguesa mais pobre", afirmou Luís Montenegro, líder parlamentar do PSD.
A vice-presidente da bancada do PS Inês de Medeiros considerou hoje que Manoel de Oliveira foi um exemplo de luta em defesa da liberdade criativa e sustentou que Portugal e os artistas portugueses lhe devem muito.