“Little rope” é o melhor disco desde a redução a duo do grupo feminino dos EUA. Em agosto, as Sleater-Kinney atuam em Paredes de Coura.
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A morte da mãe e do padrasto de Carrie Brownstein devolveram algum foco às Sleater-Kinney. “Little rope” é um álbum marcado pelo luto e pela dor, mas que contorna a melancolia e dá a volta por cima.
Há músicas perigosamente perto do pop e há temas rápidos e com as distorções pesadíssimas a que o duo de post-punk americano nos habituara. São dez temas pujantes e concisos, a rondar os três minutos – como mandam as regras do rock.
Já se passaram 30 anos desde que as guitarras e vozes de Carrie Brownstein e Corin Tucker se uniram à bateria de Janet Weiss para um dos mais excitantes projetos da década de 90. O movimento das Riot Grrrl ficou para trás e, em 2019, Janet saiu da banda, amputando as Sleater-Kinney de uma das suas principais forças motrizes. Carrie e Corin prosseguiram o caminho.
“Little rope” será o melhor disco desde que o trio se tornou um duo. Tal não pode ser dissociado da tragédia que assolou Carrie – no ano passado, a sua mãe e o padrasto morreram num acidente de viação em Itália. O disco ainda estava a meio da composição e, por isso, todos os temas vieram a ganhar tonalidades cinzentas e negras de luto e dor.
Mas, em vez de se deixar cair na tristeza, o duo aproveitou “Little rope” para se segurar, dar um golpe de asa e sair do buraco da depressão.
Há alguns temas bem pop, como “Say it like you mean it”, muito longe dos ritmos ferozes e berros firmes de outros tempos. Mas também continua a haver espaço para as harmonias vocais sobrepostas, as afinações graves e riffs distorcidos e poderosos como “Six mistakes” ou “Untidy creatures”, música que fecha magistralmente o disco.
É um álbum com mais paixão do que revolta que, se calhar, até poderá encontrar melhor acolhimento no “mainstream” do que nos nichos “indie”. A verdade é que também exibe um foco e uma fúria que crepitavam nos trabalhos antigos e que vinham perdendo força desde a saída da baterista. Talvez ficasse ainda melhor com a intensidade mais vincada, mas isso talvez já fosse pedir de mais.
O duo vai atuar no Festival Paredes de Coura, em agosto.