O documentário “Um índio em pé de guerra”, que a RTP vai transmitir nos próximos dias 5 e 6 de abril, conta a história do cineasta que morreu em março.
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Realizador, crítico, professor, cronista, cidadão comprometido com causas. António-Pedro Vasconcelos morreu a 5 de março deste ano, poucos dias antes de completar 85 anos. Uma vida criativa e empenhada, com obra que se estende desde “Perdido por cem…”, de 1973, até ao filme derradeiro “Km 224”, de 2022. Uma visão ampla e aprofundada do seu percurso será exibida esta semana com o documentário em duas partes “Um índio em pé de guerra” (2019), de Leandro Ferreira e Pedro Clérigo, que passa na RTP 1 a 5 e 6 de abril.
Organizado cronologicamente, a primeira metade acompanha o cineasta nascido em Leiria desde os primeiros anos até à ida para Lisboa, onde cursa direito (sem concluir), e para Paris, onde inicia os estudos de cinema na Sorbonne e consome vorazmente filmes na Cinemateca Francesa, contactando em primeira mão com as obras que saíam da Nouvelle Vague. Juntamente com Alberto Seixas Santos, João César Monteiro e José Fonseca e Costa fará parte da “segunda vaga” do Cinema Novo português, altamente influenciado pelo movimento francês.
Ainda antes do 25 de Abril, estreia-se com “Perdido por cem…” e, após a revolução, realiza dois documentários sobre a emigração portuguesa: “Adeus, até ao meu regresso” (1974) e “Emigrantes… e depois?” (1976). Regressa à ficção com “Oxalá” (1981) e, em 1984, assina o seu maior sucesso de bilheteira, “O lugar do morto”, que logrou 270 mil espectadores, à época um recorde em Portugal. O envolvimento cívico é também documentado, assinalando-se a sua participação na campanha de Mário Soares para as presidenciais de 1986.
Na segunda parte do documentário, regista-se o reaparecimento do cineasta, após sete anos de interregno, com outro sucesso comercial, “Jaime” (1999). É analisada a sua aposta nos argumentos como forma de dar consistência às histórias, seja em parceria com Carlos Saboga e Tiago R. Santos, ou a solo em “Os imortais”, adaptação de um romance de Carlos Vale Ferraz. As várias dimensões da vida – artística, política e familiar – desenham o retrato de um homem renascentista que não dispensava um bom jogo de futebol.