Banda indie rock de Frank Black e David Lovering toca esta segunda-feira em Lisboa e traz o novo disco "Doggerel". O baterista conta ao JN o que podemos esperar no Campo Pequeno.
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"Os técnicos de som odeiam-nos porque nunca repetimos um espetáculo, improvisamos sempre, alteramos a ordem das canções, somos uma dor de cabeça." É o que podem esperar os técnicos - e o público - do concerto desta segunda-feira, no Campo Pequeno, em Lisboa, segundo o baterista dos Pixies, David Lovering.
Consultando os alinhamentos mais recentes, confirma-se: a sequência de músicas é sempre diferente, à exceção do tema final, uma versão de "Winterlong", de Neil Young - o que fornece um pouco de estabilidade a quem trabalha.
Outra característica que se pode esperar da atuação, que se enquadra na tour de promoção de "Doggerel", lançado em setembro de 2022, é o mutismo da banda: "Não somos antissociais, mas não falamos durante os concertos. Focamo-nos exclusivamente na música", diz Lovering, que promete uma mescla entre os temas do novo álbum e os clássicos produzidos durante a primeira vida dos Pixies, entre 1986 e 1993. "Não nos aborrece esse vaivém, até porque as músicas antigas são mais fáceis de tocar. As canções novas levantam desafios, ainda procuramos a melhor forma de as fazer soar ao vivo."
Recebido favoravelmente pela crítica, "Doggerel", que parece um dos álbuns históricos da banda recoberto por pátina, o mesmo lento-rápido em sábias medidas, a estranheza das letras, entre alucinações e arengas indecifráveis, apenas mais uns pozinhos de country e rockabilly, foi considerado por alguns o melhor álbum da segunda vida dos Pixies (iniciada em 2004), mas outros, não desdenhando da sua qualidade, apontaram algum comodismo, como se a banda já não saísse da zona de conforto. Comenta Lovering: "Por acaso, o estúdio onde gravámos era bastante confortável (risos). Não sei, acho que o disco é uma reflexão sobre a maturidade. Temos hoje uma relação saudável, sem stress. Talvez isso tenha passado para as músicas."
Sobre se considera que há duas histórias separadas no percurso dos Pixies, ou apenas uma continuidade entre duas épocas, o baterista diz que são "capítulos diferentes do mesmo livro": "Fazemos as coisas da mesma maneira há 30 anos, o que mudou talvez tenha sido a receção. Ficámos muito espantados, em 2004, quando vimos miúdos nas primeiras filas dos concertos a cantarem de cor todas as letras. Os tipos da nossa idade estavam lá para trás. Percebemos que tínhamos um público de várias gerações e isso deu-nos uma enorme alegria."
O facto de os Pixies se terem tornado epítome de indie rock, e a influência que exerceram sobre inúmeras bandas, ajuda a explicar o fenómeno: "Esse legado trouxe-nos mais visibilidade. Ao mencionarem-nos, os grupos novos incentivaram os mais jovens a pesquisarem a nossa música. Mas nós não nos consideramos lendas, e eu nem sei bem quem é que influenciamos, não tenho acompanhado as bandas mais recentes."
No que Lovering acredita é em "Doggerel", um álbum trabalhado depois de "dois anos de inatividade por causa da pandemia que é, sem dúvida, um dos mais bem conseguidos da nossa carreira." Aguarde-se então esse saltitar entre "There"s a moon on" ou "Vault of heaven" (singles do novo disco) e os canónicos "Wave of mutilation", "Debaser" ou "Where is my mind?".