Chega hoje às livrarias "A filha de Vercingétorix", o 38.º álbum das aventuras de Astérix. Lançado em 15 línguas e idiomas, o livro tem uma tiragem global de cinco milhões de exemplares, dos quais 50 mil em português
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. Assinala os 60 anos de vida do gaulês - estreou-se a 29 de outubro de 1959, no n.º um da revista "Pilote" -, marcados também pela ocupação de 12 estações do metro de Paris, rebatizadas temporariamente com termos alusivos aos gauleses, por diversas edições especiais e pela cunhagem de uma moeda de dois euros.
Consolidado como um dos heróis de BD mais populares, no consulado dos seus criadores, Albert Uderzo e René Goscinny, a morte deste último, em 1977, levou o desenhador a assumir os destinos da série, cuja qualidade e interesse decaíram bastante. O anúncio, em 2012, de Jean-Yves Ferry e Didier Conrad para sucederem a Uderzo, hoje com 92 anos, deixou os leitores em suspenso, mas a verdade é que a dupla tem sabido renovar a série, sem trair o seu espírito original.
"A filha de Vercingétorix" tem a adolescência como tema central, uma "das hipóteses de história", contou Ferry em entrevista ao "Jornal de Notícias". E Conrad, acrescenta ser "interessante centrar-se em Adrenalina, uma figura feminina", algo que "nunca houve em Astérix", complementa o escritor. Isso justifica a sua presença na capa "muito apelativa", sendo apenas a quarta com uma mulher, em 38 livros.
Na ligação habitual entre a ficção humorística e a História, "a narrativa parte da ideia de que Vercingétorix [o chefe gaulês que desafiou os romanos] tinha uma filha" que, auxiliada por membros da resistência, chega à aldeia gaulesa, perseguida pelos romanos, que pretendem raptá-la e apoderar-se do colar que recebeu de herança do pai.
Ao contrário do que alguns pensam, esclarece Ferry, "Adrenalina nada tem a ver com a jovem ativista sueca Greta Thunberg. O facto de ambas serem ruivas e de na história ela seguir a bordo de um barco é pura coincidência". E confidencia: "A inspiração veio das nossas próprias filhas". Graficamente, a imagem surgiu aos poucos: "Pensei como seria a filha de Vercingétorix, depois comecei a vê-la; fiz os primeiros esboços, a ideia forte eram os cabelos cor de fogo e as botas. Inspirei-me no espírito rebelde dos jovens que vejo na rua".
O argumentista nega "uma rutura com o passado", garantindo estar "muito atento ao espírito da série", mas admite "uma evolução ao nível do tom", que Conrad corrobora: "evoluímos para algo mais moderno". E uma vez que "houve um aumento das vendas de 30%, isso deve significar que há interesse redobrado na série, de novos leitores".
Inteiramente "dedicados a Astérix", os autores revelam ter já "três ideias em mente" para o próximo livro e que o facto de "Obélix adorar viajar, porque adora pratos novos, pode ser um bom pretexto". Mas agora "o que importa é que estamos muito felizes com o resultado deste álbum". v
O 30.º Amadora BD é inaugurado hoje no Fórum Luís de Camões, na Brandoa, onde decorrerá até 3 de novembro. Marcado pela substituição de Nelson Dona, após 20 anos de direção do certame, por Lígia Macedo, assume-se quase como a edição zero e assenta numa maior proximidade a criadores e editores, o que justifica o elevado número de lançamentos previstos, com a presença de autores como Antonio Altarriba, Keko, Marcello Quintanilha ou Michele Cropera. Entre as exposições, destaque para as homenagens a Vasco Granja, Geraldes Lino e Stan Lee e aos 80 anos do Batman.