
Aurea
Pedro Granadeiro / Global Imagens
Aurea festeja dez anos de carreira com dois concertos nos Coliseus do Porto e de Lisboa, que servem de lançamento do novo disco.
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Foi na casa dos 20 anos que Aurea se lançou na música. Começou pelo inglês, porque, conta, foi o que a deixou mais "confortável". Com a idade vieram novos gostos e uma vontade de se aproximar das raízes. Lança agora "Moods", primeiro disco maioritariamente em português. Em conversa com o JN, fala acerca do novo olhar sobre as antigas músicas, a mudança de língua e sobre ser mulher na indústria musical.
Passados dez anos, sente que era o momento de ter um álbum de partilha?
Sem dúvida. Queria fazer a passagem dos álbuns a solo para um que pudesse partilhar com muita gente, mostrando o que fui aprendendo. Acima de tudo, queria que o público, ao ouvir as novas músicas, me sentisse como ser humano.
Ou seja, apesar de ser um álbum feito a muitas mãos, é a identidade da Aurea?
Sem dúvida. Por isso é que o disco se chama "Moods", porque passa por todos os estados de alma que tenho durante uma semana, um ano, dez anos. Quem ouvir o disco vai perceber essas diferenças de energia.
Como surgiram estas colaborações?
Para este disco, fui egoísta. Acho que é a palavra certa. Baseei-me no que gosto de cantar e de ouvir. Decidi convidar pessoas que sigo. Mesmo com os novos artistas, que não conhecia, escolhi porque gosto sinceramente do que fazem.
Sentiu que podia ajudar a lançar novos talentos?
Não acho que seja por ajudar. É mesmo pelo mérito. Eles são bons. Escrevem muito bem, compõem lindamente e os produtores foram incríveis. Não é por dar a mão, é apenas por mérito deles que os escolhi, porque os adoro como artistas. A vantagem de ter dez anos de carreira é que conheço a indústria musical em Portugal e percebo quando encontro um talento.
Como é ser mulher na indústria musical?
Isso dava para uma conversa extensa. Não posso mentir, quando comecei foi mais complicado. Vinha de um mundo que não tinha nada a ver com o da música. Não fazia ideia de como funcionava a indústria e tive de ir aprendendo. Sendo mulher, senti que tinha muito a provar. Sendo mulher, tens de passar por mais barreiras para aprenderes sozinha como funciona este Mundo. Olhavam muito para a minha imagem, pela positiva e pela negativa. E nunca quis isso. Nunca quis ser só uma cara. Queria ser uma voz. Cheguei a ouvir "afinal esta cara bonita até canta qualquer coisa". Houve muita condescendência.
Porquê a opção maioritária pelo português no novo álbum, o que acontece pela primeira vez?
Já há muito tempo que me perguntavam porque não cantava em português. Na minha vida, faço as coisas consoante o que sinto que deve acontecer. E achei, até agora, que não tinha sido a altura certa para explorar o português. A decisão de cantar em inglês, desde o início, foi única e exclusivamente porque me era muito natural. Entretanto, com os anos e como não gosto de ficar presa a um sítio durante muito tempo, achei que já estava na altura de ir para a nossa língua.
Como foi essa passagem?
Natural. E até veio muito através do "Volta" (single já disponível). Nunca tinha feito uma música, nunca tinha pegado na caneta e no papel, e, de repente, começar a escrever uma letra, que vem só de mim e que não depende de mais ninguém, saiu naturalmente. E saiu em português. Eu própria não estava à espera.
Vai revisitar músicas antigas no concerto. Como está a ser esse processo?
Sou uma pessoa muito nostálgica por natureza. Fazer esta retrospetiva não é fácil, mas dá-me muito gosto. Gosto de passear pelas memórias e elas fazem parte de mim e da pessoa que eu sou.
É muito crítica do que já fez?
Muito, muito, muito. Fico sempre a pensar "devia ter feito isto ou aquilo". Até prefiro não ouvir o que fiz. Se estou a ouvir rádio e passa uma música minha, mudo. Por mim, alterava eternamente coisas nos meus discos, nas músicas, nas letras.
