O coletivo BaianaSystem, projeto audiovisual que "mergulha nos símbolos e na cultura popular" brasileira, regressa a Portugal na sua nova digressão europeia, e atua esta sexta-feira no Hard Club do Porto, sábado no Festival Pé na Terra em Almancil e domingo no Monsantos Open Air, em Lisboa.
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Ao nosso país, o grupo traz o seu quinto disco, "O Mundo dá voltas", editado em janeiro deste ano. Nele, juntaram-se em estúdio artistas como Gilberto Gil, Anitta, Seu Jorge, Emicida, e Dino D"Santiago, representativos do impacto que o coletivo de Salvador da Baía tem tido na cultura brasileira e não só, com um som marcado por uma mescla entre a guitarra baiana e influências jamaicanas do sound system, samba-reggae, afoxé e afro-rock. Tudo complementado com uma forte componente estética e mensagens humanistas, sociais e políticas.
Ao JN, Roberto Barreto, fundador e guitarrista do grupo já com 16 anos de estrada, resume o coletivo como um projeto que "mergulha muito nos símbolos e na cultura popular, na cultura ancestral que é muito forte e muito presente em Salvador, com forte presença da influência africana no nosso Estado e cidade", adianta.
Essa influência é carimbo óbvio nos sons, onde há muita percussão afrobaiana, e na maneira "como os ritmos e as melodias se misturam em Salvador e também no interior do Estado, e em como isso chega a lugares que não são banhados ali pela Baía de Todos os Santos".
Está também em toda a estética, nos símbolos, nas cores, numa parte visual que é marcante, admite Barreto. "A identidade visual, criada e concebida por Filipe Cartaxo desde o início do grupo, ela é muito presente nos espetáculos, nas imagens, nas referências de grafismo e de cores, que também vai buscar muito na cultura popular. E inclui a máscara, que é um símbolo muito presente, muito forte, bem como os personagens que banham o imaginário dos BaianaSystem", adianta.
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Uma postura política e social
Segundo o guitarrista, os personagens dentro do imaginário do coletivo - "o Saci Pererê, o Capim-Guiné e o Cabeça de Papel", entre outros - são símbolos que, "além da presença cultural muito forte", têm um posicionamento e uma clara postura política.
Na chegada a Portugal, os artistas esperam que a sua mensagem, "tanto política quanto social, musical e cultural", lhes permita viver uma troca com o público português "e que a língua portuguesa, que nos aproxima tanto, seja mais um canal pelo qual tenhamos trocas importantes, que o público possa perceber o que hoje estamos a produzir no Brasil, o que trouxemos para cá com essa tour e como as voltas que temos dado pelo mundo passam a influenciar-nos e a fazer parte da nossa música", destaca o fundador.
Ciclos de paz e amor
Na atual digressão, é inegável e presente o conceito e conteúdo do último disco, "O Mundo dá voltas", onde o tema de abertura é "Batukerê", com a presença de Dino D"Santiago e de mestres ancestrais da cultura brasileira.
A música em questão fala, garante Roberto Barreto, de uma convivência de respeito, "de paz, e de um amor que é muito importante para o mundo neste momento", frisa. "Dino canta isso quando fala também de liberdade e dessa paz que nós procuramos, com a representação de muitas fés presentes e desse respeito que o mundo tem precisado entre os povos, no entendimento de que é possível as culturas respeitarem-se, complementarem-se".
Voltar agora a Portugal, depois de concertos em Cascais e no Porto no ano passado, tem, para o grupo, "um sentido de ciclo, de que podemos voltar com a nossa música, nos encontrarmos com o público, e que essas voltas sejam sempre de retroalimentação; de voltarmos com mais coisas e de aprendermos mais coisas para que o amor, que é a mensagem principal que sai da nossa música, possa chegar às pessoas e manter o mundo a dar voltas de uma maneira mais harmónica", reitera, lembrando: "temos precisado muito, principalmente nos dias de hoje, com tudo que estamos a ver acontecer", destaca.
Nos concertos, há surpresas: "vamos ter a honra de ter Dino D"Santiago em Lisboa", frisa o guitarrista. O grupo terá também como convidada Titica, cantora angolana que entrou num tema de 2019, "Capim Guiné".