Criador de Makoki era expoente da BD underground do país vizinho.
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O autor catalão Miguel Ángel Gallardo Paredes faleceu esta terça-feira, vítima de cancro. Criador de Makoki, foi um dos expoentes da banda desenhada underground espanhola e figura marcante na sua revolução nos anos 1980.
Natural de Lérida, na Catalunha, onde nasceu a 27 de dezembro de 1955, estudou lá até aos 17 anos, antes de se mudar para Barcelona, em 1973, com o objetivo de entrar nas Belas Artes. Não tendo sido admitido, recorreu à Escuela de Artes y Ofícios Massana, onde permaneceu três anos, até conseguir o seu primeiro emprego, num estúdio de animação, onde conheceu Juanito Mediavilla. Juntos, criaram a revista "Star", onde fez a primeira incursão no mundo da BD. Em 1977 criou a sua personagem mais emblemática, Makoki, numa história curta para uma revista musical.
Com a BD espanhola a viver uma autêntica "movida", a estreia da revista "El Víbora" em 1979 faz-se com Gallardo entre os colaboradores, assinando "OTAN, si, OTAN, no" em parceria com Mediavilla ou, a solo, "Los sueños del Niñato", sobre os pesadelos provocados pela abstinência da heroína, baseado na sua experiência.
A popularidade de Makoki, quase um diário gráfico de um país a descobrir a liberdade, que Gallardo continuou a publicar em diversas publicações, levaria à criação de uma revista com o seu nome, de caráter underground e adulto, que durou uma década, até 1993. Dois anos depois, Gallardo punha fim ao seu personagem fétiche em "La muerte de Makoki", publicada em "El Víbora".
Perro Nick, Perico Caranbola, Buitre Buitaker e Roberto España y Manolin são outras criações de Migual Gallardo, assentes na sua grande versatilidade gráfica e nas temáticas que balizaram grande parte da sua obra: a sátira aos clássicos e o retrato crítico e feroz da atualidade.
A primeira passagem pela BD terminaria em 1995 com "Un largo silencio", um misto de texto e banda desenhada em que evoca a memória do pai, combatente republicano na Guerra Civil espanhola. Esta obra seria editada em português, com o título "Um longo silêncio", em 1998, a propósito de uma exposição organizada pela Bedeteca de Lisboa e pelo Museu da República e Resistência.
Depois de uma década em que se dedicou à ilustração editorial, regressou à BD em 2006 com "Três viajes", a primeira obra autobiográfica, a que se seguiu o seu grande sucesso de público, "María y yo", baseado na relação com a filha autista, então com 12 anos, que lhe valeu o Prémio Nacional de Cómic da Catalunha. A obra seria traduzida numa dezena de línguas, incluindo o português, como "Maria e eu" (ASA, 2012), tendo tido também uma adaptação cinematográfica, com interpretação de pai e filha nos próprios papéis, e teria uma sequela, "María cumple 20 anos", em 2015.
A sua última banda desenhada foi "Algo extraño me pasó camino de casa" (2020), em que relatava a sua experiência com o cancro de que padecia há alguns anos e de que viria a falecer.