Álvaro e Dearradé, autores nacionais de banda desenhada, são protagonistas do novo álbum “Há quem queira que a luz se apague”.
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Na Banda Desenhada – como nos perfumes e nos chocolates… – o tamanho não tem qualquer importância. Que é como quem diz, a qualidade de uma obra não se afere pelo seu número de páginas, mas sim pelo que ela conta e/ou pelo modo como o conta.
Vem este introito a propósito de “Há quem queira que a luz se apague”, uma singela edição da Kingpin Books com apenas 16 páginas, que reflete sobre a importância do humor, tendo por base dois autores nacionais, raros exemplos de cultores do género na BD portuguesa contemporânea.
Eles são: Derradé, o criador de “A loja” (editada pela Polvo) ou “O fogo sagrado” (Escorpião Azul), e Álvaro, criador de “Conversas com os putos” ou “Porra... voltei!”, em auto edições com a chancela da editora Insónia. Ambos surgem agora também como protagonistas deste opúsculo, e estão envelhecidos e com limitações físicas.
Surgindo de alguma forma na esteira de “O fogo sagrado”, uma reflexão pós-apocalíptica sobre a imperatividade íntima do seu autor, Derradé, se dedicar à banda desenhada, “Há quem queira que a luz se apague”, que se autodefine como “uma visão apocalíptica-realista de um mundo que não se avizinha para graças”, também surge ambientada num futuro indefinido.
Esse futuro, assustadoramente, não parece muito distante, e os praticantes do humor estão a ser detidos e reprogramados, sob a égide de um desconhecido “Supremo líder”. O último “terrorista do humor ainda a monte” é Derradé que, uma vez capturado, vai ser confrontado com uma chocante revelação.
Embora o livro “Há quem queira que a luz se apague” esteja de algum modo centrado na realidade da BD nacional, podendo por isso ser melhor fruído por quem a conhece e/ou frequenta, a verdade é que a reflexão que suscita sobre a possibilidade de rir e fazer rir e sobre olhar crítico que isso implica, é facilmente aplicável a qualquer outro meio ou forma de expressão.
Num tempo em que, infelizmente, cada vez mais o humor, o pensamento inteligente e o sentido crítico são postos em causa continuamente, o enjoativo politicamente correto domina crescentemente e tenta nivelar por baixo, fazendo prevalecer a estupidez e a imbecilidade.