"Pedro e o Imperador", da dupla luso-brasileira Marcos Batista e Joana Afonso, foi lançado no Amadora BD e marca o arranque de um projeto mais vasto que pretende incluir criadores dos restantes países dos PALOP.
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Um encontro surreal para discutir os contratempos do império é o ponto de partida de "Pedro e o Imperador", uma banda desenhada assinada pelo brasileiro Marcos Batista e a portuguesa Joana Afonso, numa co-edição das editoras Lote 42 e Polvo, integrada nas comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil.
O livro, lançado dia 23 no Amadora BD, com a presença dos autores, é o primeiro de um projeto que pretende juntar autores e editores do Brasil e dos PALOP e faz parte do Programa Brasil em Quadrinhos, criado em 2019 pelo Ministério das Relações Exteriores - Itamaraty, com apoio e produção da Bienal de Quadrinhos de Curitiba.
Ao "Jornal de Notícias", Rui Brito, editor da Polvo, contou que "Portugal é o primeiro país envolvido" e que "foram as duas editoras a propor os autores", sendo "a evolução dos trabalhos sempre acompanhada pelos intervenientes no processo". E a terminar, reconhece que "o facto da Polvo já ter publicado bastantes autores portugueses e brasileiros, foi um dos motivos do convite".
Marcos Batista disse ao JN ter ficado "surpreendido com o convite da Lote 42" pois geralmente em BD assina "histórias curtas, de humor", mas ao mesmo tempo declara-se "feliz por terem visto nesses trabalhos potencial para este projeto". E confessa que o que o "levou a "Pedro e o Imperador" nasceu muitos anos antes, na emoção despertada na primeira vez que vi o Tejo; as visitas a Portugal são sempre muito emocionantes, e este projecto deu a possibilidade de amadurecer um afecto profundo surgido na beira deste rio".
Se inicialmente pensava "contar uma história sobre Pedro IV, ao perceber melhor Pedro II, uma figura trágica deixada para trás, vi que por meio dele poderia falar de assuntos que nos afligem ainda hoje como abandono, escravidão, política, colonialismo, masculinidade e o resgate de afectos."
Já Joana Afonso, a desenhadora de "Pedro e o Imperador", confessou ao JN que "nunca ter feito BD histórica" foi o que primeiro lhe agradou no "convite/proposta de Rui Brito", ficando assim "aberta à novidade e também à oportunidade de participar num projecto além-fronteiras."
Depois de "breves reuniões para nos conhecermos e explicar o que queria contar com a história", lembra Batista "tive total liberdade para escrever e a Joana para desenhar". Esta, reconhece que "foi um trabalho difícil, pois existem situações que não estão documentadas, mas ajudou bastante o trabalho do Marcos na pesquisa de fontes fotográficas dos espaços em que a história se desenvolveu."
Acrescenta que "o maior desafio foi a procura do equilíbrio entre o real e o imaginado e aliar a parte documentada que existiu e a ficção", mas reconhece estar "empolgada por esta história ver finalmente a luz do dia" e "feliz com o resultado, já que, para além da preocupação histórica, a BD é a preto a branco, algo a que não estou muito habituada, pois, no geral, utilizo bastante a cor no meu trabalho."
Já Batista conta que conseguiu "ler a história com olhos de surpresa, devido aos desenhos incríveis da Joana que dão um novo sentido a tudo que imaginei." E conclui: "Acho que o bicentenário da independência do Brasil recebeu uma bela homenagem da nossa parte".
"Pedro e o Imperador" já está disponível nas livrarias brasileiras e na Feira do Livro do Amadora BD, que está a decorrer no Sky Skate Amadora Park até este domigp. Joana Afonso estará presente no festival sábado e domingo para autógrafos.