Conhecido pelas teses sobre os danos emocionais provocados pelo capitalismo, influente ensaísta Byung-Chul Han profere uma palestra no Porto nesta terça-feira, seguida da exibição de película "The man who breaks in".
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Em março, o Batalha Centro de Cinema, dando seguimento à sua programação eclética, lançou a atividade "A minha história do cinema". Neste ciclo de palestras, o centro portuense convida diversas personalidades a explicar a sua relação com diferentes formas de produção de cinema, através de experiências e filmes que marcam a vida e até práticas profissionais de cada uma.
A primeira edição deste programa é dedicada a pessoas que desenvolvem investigação e produção escrita em várias áreas do pensamento - como estudos de género, estudos culturais negros, política cultural, pós-colonialismo, retórica e filosofia - e que ligam essas práticas à realização de filmes.
Depois da maliana Manthia Diawara ter apresentado no mês passado uma obra fílmica em estreia nacional e dado uma palestra sobre os temas que com ela se relacionam, hoje, às 19.15 horas, é a vez do influente filósofo sul-coreano Byung-Chul Han. À palestra segue-se a projeção do seu filme "The man who breaks in" (21.15 horas), em estreia nacional absoluta.
A entrada para ambos os eventos é gratuita, mediante levantamento de bilhete no próprio dia e com a limitação de dois bilhetes por pessoa.
Espírito crítico
Byung-Chul Han tem uma longa carreira académica e um percurso distinto como ensaísta e dissertador.
Recentemente, tem focado o seu trabalho nos danos emocionais que emergem no contexto da fase mais recente do capitalismo e nas consequências individuais de um sistema que promove produtividade, inovação e crescimento a qualquer custo.
A palestra do Batalha intitula-se "Sobre Eros" e terá moderação de Eduarda Neves, curadora e professora de teoria e crítica de arte contemporânea.
Raramente exibido, e de que pouco se sabe, por decisão do próprio autor, que raramente dá entrevistas, o filme "The man who breaks in" foi escrito, realizado, filmado e musicado por Byung-Chul Han.
Segundo a sinopse fornecida pelo Cinema Batalha, "as cenas contemplativas do filme mostram duas figuras em coreografias distintas e carregadas de significado. Ao longo da narrativa, ouve-se uma ária das Variações de Goldberg, de Bach, considerada pelo autor a verdadeira protagonista."
Da Ásia para a Europa
Byung-Chul Han nasceu em 1959. Estudou metalurgia em Seul, antes de se mudar para a Alemanha, na década de 1980, para estudar Filosofia, Literatura Alemã e Teologia Católica. A sua dissertação de doutoramento em Friburgo versou sobre Heidegger.
Em 2000, Byung-Chul Han ingressou no Departamento de Filosofia da Universidade de Basileia e dez anos mais tarde tornou-se membro da Universidade de Arte e Design de Karlsruhe, onde as suas áreas de interesse foram a filosofia dos séculos XVIII a XX, ética, filosofia social, fenomenologia, teoria cultural, estética, religião e filosofia intercultural.
De 2012 a 2017 ensinou filosofia e estudos culturais na Universidade das Artes de Berlim, onde dirigiu um novo centro de estudos.
Esta primeira ronda de "A minha história do cinema" encerra no próximo dia 9 de maio, com a presença no Porto da vietnamita Trinh T. Minh-ha, que apresentará, a seguir à sua palestra, o filme "What about China?
Defensor de novo modo de vida
Byung-Chul Han é autor de mais de 20 livros, alguns dos quais estão editados em português. É o caso de "A sociedade do cansaço". Lançado em 2014, o livro defende que qualquer época tem as suas doenças características. Segundo o autor, houve uma época bacteriana, que terminou com a descoberta dos antibióticos, e uma época viral, ultrapassada através das técnicas imunológicas, apesar dos periódicos receios de uma pandemia gripal. Já o início do século XXI seria marcado sobretudo por doenças do foro neurológico, como a depressão.
Outras obras do autor são "A sociedade da transparência", que surpreendeu pelo seu caráter inovador e lacónico, "Infocracia - A digitalização e a crise da democracia", "Não coisas - Transformações no mundo em que vivemos" e o título mais recente a ser lançado pela Relógio d'Água, já em janeiro deste ano, "Vida contemplativa ou sobre a inatividade", onde Byung-Chul Han traça as potencialidades, o esplendor e a magia da ociosidade e projeta um novo modo de vida.