Ex-guitarrista dos Suede estreia-se em Portugal em nome próprio e atua este domingo à noite na Casa da Música. Ao JN confessa: "Descobri que a minha voz está diferente. E que gosto de como me estou a conseguir expressar”.
Corpo do artigo
Pela primeira vez em nome próprio em Portugal, Bernard Butler, ex-guitarrista e membro fundador da banda pop britânica Suede, atua domingo à noite na rubra Sala 2 da Casa da Música, no Porto. Os bilhetes custam 20 euros.
O pretexto é um novo disco a solo, “Good grief”, o primeiro neste registo de um músico que na verdade nunca parou de compor e produzir.
Butler conta com parcerias de dezenas dos mais importantes artistas da contemporaneidade. Duffy, James Morrison, The Libertines, Kate Nash ou Tricky são só alguns dos muitos nomes para quem o artista, nascido em Londres em 1970, tem composto, ou cujos trabalhos produz, normalmente nos bastidores, mas muitas vezes com presença em palco.
Uma crise musical do meio da vida
Depois da sua saída dos Suede em 1994, o compositor, que agora tem 54 anos, não abrandou, tendo no impressionante currículo ainda uma segunda banda que formou com o vocalista dos Suede, Brett Anderson, em 2004: o fugaz projeto The Tears.
Ao longo destes mais de 30 anos, foi também criando a solo, mas não editava a solo desde os anos 1990. Ao JN, explica porquê: “Nunca parei de fazer discos, devo ter feito, ou fiz, centenas de discos [para outros artistas]. São já muitas músicas, com muitas pessoas, muitas composições. E por causa disso há muitos sons e personalidades, texturas e géneros envolvidos. Ao ponto de começar a perguntar: mas, quem sou eu?”.
Butler descreve esse momento, ou sensação, “não como uma crise de meia idade, mas uma crise musical de meio da vida”.
Aquela frase de Charlie Brown
Na busca da sua real identidade musical, com “o meu nome em tantas canções e discos, mas sentindo-me perdido no meu papel”, o guitarrista voltou às bases: “Percebi que a melhor maneira era entrar num quarto e começar a cantar algumas músicas. Sem a produção, apenas eu, uma guitarra e um microfone. E para fazê-lo de forma mais difícil, decidi não ouvir nada, não pensar em como encheria os espaços ou faria os arranjos instrumentais”.
O desafio foi superado, e Bernard Butler diz ter descoberto no processo e no exercício, ao longo de vários meses, a sua voz. Literalmente. “Descobri que a minha voz está diferente. E que gosto de como me estou a conseguir expressar agora”, confessa ao JN.
Do desafio veio “Good grief”, novo disco com o nome retirado, não à expressão do personagem de BD Charlie Brown - “só recentemente descobri que essa era a frase dele e era ‘uma cena”, diz -, mas porque na fase final do disco, enquanto o terminava, passou por situações de perda, e tristeza.
“É uma expressão com um pouco de ironia, não é? Sobre como na dor pode haver também um lado diferente, até de comédia, ainda que escura; mas também de esperança”, frisa.
“Canto, toco, improviso, conto histórias”
Sobre o concerto deste domingo no Porto, que confessa “adorar”, Bernard Butler revela aquilo que costuma fazer em palco.
“Canto e toco guitarra músicas novas e velhas, improviso, interpreto as coisas consoante o ambiente, conto histórias. Espero sobretudo que as pessoas se divirtam. Acho que as pessoas às vezes me veem como um tipo enigmático, misterioso, quase soturno e pensam que é para manter a calma nos concertos, mas não sou assim. Gosto que todos os que me vão ver tenham verdadeiramente uma boa noite”.