Experiência testada no primeiro confinamento é agora retomada. Autarquias conquistaram novos leitores e ponderam manter serviço depois da pandemia.
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"Boa tarde. É da biblioteca, para entregar os livros", avança a bibliotecária Fátima Gonçalves. Joana Machado surge em pantufas à porta do prédio onde mora; devolve os dois volumes que requisitara um dia antes do confinamento e recebe o saco selado que tinha acabado de sair da biblioteca da Maia, com os livros pedidos há pouco mais de três horas, através da iniciativa municipal "Fique em casa, leia um livro".
A entrega de livros ao domicílio multiplica-se um pouco por todo o país, e, à semelhança do concelho da Maia, vários municípios implementaram a prática durante o primeiro confinamento, no ano passado. Como o de Santo Tirso, que acabou por conquistar "muitos novos leitores", como refere, ao JN, Elsa Mota, diretora da biblioteca municipal, que regista "uma adesão grande" ao projeto "Biblioteca porta a porta".
"Olá, Maria! Venho entregar o livro da biblioteca", anuncia a bibliotecária Raquel Rocha à menina de 11 anos que abre a porta para receber o "Pai sarilho". "Como a escola está fechada e não posso requisitar, assim posso continuar a ler", diz a aluna do 6.º ano, "leitora desde pequenina" da biblioteca de Santo Tirso.
Também estudante, a maiata Joana Machado, de 31 anos, há de aproveitar para pôr a leitura em dia, nas pausas dos trabalhos para o doutoramento. "Fiz a requisição dos livros ao meio-dia e já cá estão", elogiava, a meio da tarde, a licenciada em Ciências Agrárias, lembrando que ler "é uma forma de passar o tempo, sobretudo para quem está confinado".
"Foi muito rápido", concordaria Ana Aguiar, enquanto recebia, no Castêlo da Maia, os volumes que pedira no dia anterior. "Este serviço é fantástico, e se continuar [após o confinamento] vou utilizá-lo, sem dúvida", prometia a leitora de 51 anos.
E a iniciativa é "para continuar", garantiu ao JN o chefe da biblioteca da Maia, Miguel Azevedo, adiantando que o serviço, que "é feito na maior segurança", será assegurado pelos meios da biblioteca itinerante, para chegar "às pessoas que tenham mobilidade reduzida ou que estejam incapacitadas de sair de casa".
"Adoro ler, e este serviço é uma mais-valia. Em princípio, será para utilizar mais vezes", antecipa Ema Ribeiro, de Rebordões, Santo Tirso, a quem o confinamento levou o trabalho como auxiliar de educação e, por isso, a possibilidade de comprar livros.
600 livros entregues
Em Santo Tirso já foram entregues cerca de 600 livros a um total de 350 residentes do concelho, e a iniciativa não parou quando a biblioteca reabriu, em maio passado.
Procura duplicou
Entre meados de abril e maio de 2020, a biblioteca da Maia teve uma média diária de três utilizadores para entregas ao domicílio, e desde o passado dia 15 já duplicou esse número, registando cinco a seis utilizadores diários.
Vários concelhos
Matosinhos, Vila do Conde, Póvoa de Varzim, Trofa, Aveiro e Fundão são alguns dos concelhos que também implementaram o serviço de entrega de livros ao domicílio.