Bienal Internacional de Arte Gaia arranca este sábado com reforço do foco social e maior área expositiva de sempre.
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Parte integrante do ADN da Bienal Internacional de Arte Gaia, as preocupações sociais ganharam ainda maior relevo na quarta edição, que arranca já amanhã na Quinta da Fiação, em Lever, e pode ser visitada até 10 de julho.
Mais de metade das 13 exposições espalhadas por três pavilhões, com uma área total próxima dos seis mil metros quadrados, apresentam um fundo humanitário, justificando ainda mais o epíteto de "bienal de causas".
Da mostra sobre a violência doméstica à reflexão sobre a democracia que entrelaça o trabalho de escritores e artistas, são numerosas as aproximações ao tema.
Numa das exposições que causará por certo maior impacto junto dos visitantes, intitulada "A importância de ser Ernesto", o grito de revolta dos profissionais da restauração é bem audível. Por entre obras de arte que emolduram as paredes de um restaurante, vemos cadeiras que ganham pó à espera dos clientes que já não vêm ou uma mancha de tinta vermelha nas paredes caiadas de branco, acentuando o desespero que atinge atualmente muitos milhares de profissionais do setor.
"Agitar consciências"
As implicações severas da pandemia estão igualmente presentes na exposição "Coronavírus não destrói a criatividade", que resulta de um concurso internacional lançado em abril do ano passado para que os artistas procurassem fixar numa obra de arte o momento que estavam a viver.
"O que nos distingue de todas as outras bienais é o apego às causas. Somos uma bienal política que não persegue o belo, mas procura, acima de tudo, agitar consciências", afirma Agostinho Santos, diretor do evento.
Se a pandemia é um tema inescapável na atual edição, há tradições que se mantêm. Como a dos artistas homenageados. Este ano são quatro: Albuquerque Mendes, Paulo Neves e a dupla Álvaro Siza Vieira/ Carlos Castanheira.
A cedência temporária das obras destes artistas só foi possível graças à parceria estabelecida com a Fundação de Serralves, uma das novas instituições, a par da DGArtes, que passam a estar associadas ao certame.
Na "tentativa de descentralização da arte", os Artistas de Gaia voltaram a apostar nos polos. São oito as localidades (Alfândega da Fé, Esposende, Funchal, Gondomar, Monção, Santa Marta de Penaguião, Viana do Castelo e Vila Flor) que acolhem exposições.
Ao cabo de seis anos, a mais jovem bienal artística do país já atingiu um reconhecimento significativo. Contudo, Agostinho Santos prefere encarar o crescimento "degrau a degrau". Um dos próximos objetivos a atingir passa pela envolvência crescente com o Brasil e países africanos de língua portuguesa.
Destaques
"Infinitude da luz"
Com curadoria de Filipe Rodrigues, a exposição reúne obras de uma dezena de artistas japoneses. Em aberto está a possibilidade de, num futuro próximo, artistas nacionais virem a expor no Japão, fruto de uma parceria que está a dar os primeiros passos.
"A democracia é..."
A partir de frases de 25 escritores em redor do conceito de democracia, outros tantos artistas plásticos dão forma visual às palavras na mostra "A democracia é uma obrigação de todos os dias".
"Paz e Constituição"
Exposição coletiva comissariada por Ilda Figueiredo, que assinala os 45 anos da Constituição Portuguesa com um enfoque em obras de pendor social.
"Vidas marcadas"
O curador Jorge Marinho revela um conjunto de trabalhos cujo denominador comum é a violência doméstica.
"A importância..."
A crise profunda que atravessa o setor da restauração é abordada na exposição "A importância de ser Ernesto", organizada por Reinaldo Pereira, proprietário do emblemático Restaurante Ernesto, no Porto.
"Dicionário covid"
A pandemia teve um impacto a vários níveis, incluindo o lexical. Com acutilância e humor, António Rocha criou um novo dicionário covid que pode ser visitado na bienal.