Em junho, dezenas de artistas vão pintar e esculpir durante dois dias seguidos na Quinta da Fiação de Lever, em Gaia. Festival de arte continua aberto até ao dia 8 de julho.
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Serão 50 horas ininterruptas, 50 horas seguidas de criação artística a fervilhar ao vivo na Bienal Internacional de Arte de Gaia. O evento está ainda a ser preparado e deverá entrar na programação oficial em breve, estando previsto para junho.
A revelação é feita ao JN por Agostinho Santos, curador e diretor da Bienal. Santos assegura que essas 50 horas de criação em tempo real vão envolver diversos artistas presentes na Bienal e serão totalmente abertas ao público. "A ideia é aproximar visitantes e artistas".
No segundo pavilhão do certame, na Quinta da Fiação de Lever, em Gaia, já é possível subir até um patamar elevado, no espaço apelidado de "ateliers", a partir do qual, além de uma vista panorâmica sobre boa parte da Bienal, já é possível assistir, em determinados momentos, a artistas a criar as suas obras ao vivo - tanto de pintura como de escultura. As peças e telas que saírem dos espaços de criação serão posteriormente exibidos em eventos a anunciar.
A Bienal de Gaia abriu portas no passado dia 8 de abril, fecha a 8 de julho, e a afluência tem agradado a Agostinho Santos. Com público mais ou menos acostumado a consumir arte, o curador e diretor salienta as famílias que visitam a Quinta da Fiação. "Apesar de não termos espaços exclusivamente infantis, é interessante ver a dinâmica dos mais novos a absorver conhecimento dos graúdos".
A diversidade de temas, obras e artistas e o caráter interventivo são inegáveis na também chamada "Bienal de causas". O nome não poderia assentar melhor. Desde exposições dedicadas ao 25 de abril, à instigação dos artistas em criar arte que reflita temáticas quentes e contemporâneas, não falta atualidade entre as 35 exposições e mais de 300 artistas que inundam a Quinta da Fiação de Lever.
Atenções em África
Mas a joia da coroa da 5ª edição da Bienal de Gaia é o continente convidado. Mais do que estrear a modalidade com apenas um país convidado, foi decidido estender o convite a todo o continente africano. Guerra, racismo ou pobreza são alguns dos temas incontornáveis numa exposição com mais de 20 artistas africanos, desde a velha guarda - é possível apreciar trabalhos do conceituado Butcheca -, aos novos nomes. Uma nota especial para Reinata Sadimba e Samuel Muankongue, mãe e filho, que expõe lado a lado na Bienal, com esculturas que se complementam, contando uma narrativa a dois. Os temas que representam, além da incontestável maternidade, estão na ordem do dia, com máscaras nos rostos.
Além do recém-anunciado evento de 50 horas ininterruptas de arte, a Bienal de Gaia está ainda a preparar outros eventos. Uma das garantias é o novo ciclo de debates: procurará criar em Gaia um epicentro de discussão sobre a arte e a sua relação com temas atuais. Recentemente, com direito a casa cheia, decorreu o debate em torno da exposição "Revolução: 50 anos, 50 artistas", que pode ser vista na Bienal até 8 de julho, e que contou com a participação de artistas plásticos e do capitão de Abril Batista Alves.
Democratizar a arte
Mas a diversidade não acaba nos temas. Há ainda outros 13 pontos espalhados pelo país (e um na Galiza), que vêm sendo inaugurados ao longo de vários dias. Estes sítios de exposição, que juntam artistas locais com criadores de Gaia, são a prova de que a Bienal cumpre o que prometeu: descentralizar.
Agostinho Santos entende que esta é uma forma de democratização da arte, que, assim, "chega a locais e a pessoas aos quais não é rotina a arte estar presente".