Bienal Internacional de Arte de Vila Nova de Gaia é uma janela aberta para propostas globais. Para ver até 12 de julho.
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Há nas bienais de arte um gosto pelo excesso que não poderia estar mais em desalinho com tempos, como este, em que a moderação e o controlo, esses suporíferos natos, parecem ditar leis. Trata-se, afinal, de recuperar a divisa do mestre William Blake, segundo a qual “a estrada do excesso leva ao palácio da sabedoria”, ao mesmo tempo que se ambiciona ter “tudo, em todo o lado, ao mesmo tempo”, como afiançava o filme vencedor dos Oscars em 2022.
Numa esfuziante ode à liberdade, ali tanto cabem as correntes estéticas díspares e os géneros conflituantes, os consagrados e os debutantes, os alternativos e os 'mainstream'. Tudo em nome da arte e da sua exaltação.
É o que encontramos, a título de exemplo, na edição deste ano, a sexta, da Bienal Internacional de Arte de Gaia, que volta a fazer da desativada Quinta da Fiação de Lever uma plataforma dinâmica de divulgação da arte onde a causa maior é mesmo o apego às causas sociais. Autêntico tema maior de boa parte das obras apresentadas, este pressuposto poderia, se mal utilizado, conferir ao conjunto de mostras ali reunidos um escusado (e, porque não dizê-lo, insuportável) tom moralizante, se porventura os artistas usassem o espaço como púlpito para evangelizar os incréus. Nada disto acontece, felizmente, porque a abordagem preferencial passa pela partilha da consciencialização, assente na liberdade individual. Do genocídio em curso em Gaza ao drama habitacional, são múltiplas as abordagens e não menos numerosas as vias pelas quais os artistas se apropriam destes (e doutros) temas.
Causas à parte, há muito mais para ver nos dois pavilhões que albergam a Bienal, número a que há somar ainda a dúzia de pólos espalhados de norte a sul e pela Galiza. Artista homenageado, Lagoa Henriques surge-nos representado através das suas mais icónicas esculturas, entre as quais a de Fernando Pessoa, assim como de desenhos de foro intimista. Imperdível é também o espaço do regressado Porto Cartoon, que apresenta ao visitante uma mostra de foro antológico onde cabem trabalhos dos incontornáveis Wolinski, Cid ou Vasco. O estado do Mundo (ou melhor, o estado a que chegou o Mundo) é o fio condutor destes cartoons embebidos em humor ácido que nos fazem despertar uma gargalhada trocista por aqueles que nos (de)governam.