Nasceu na Guiné-Bissau e instalou-se com a família em Portugal. Com o sonho de ser atriz, graduou-se na Escola Profissional de Teatro de Cascais e tem continuado os seus estudos de representação em Inglaterra.
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Com experiência no teatro e na televisão, é a grande revelação do filme “Nome”, de Sana Na N’Hada, que chega aos cinemas esta quinta-feira, no papel de Nambu, uma jovem de uma aldeia guineense que, em 1969, é deixada grávida pelo namorado, que parte para a luta armada. A história da criança que tem sozinha, em plena floresta, acompanha o filme até ao seu final. Estivemos a conversar com a jovem atriz.
De onde vem esse seu desejo de ser atriz?
Eu sempre gostei muito de cinema. Na minha casa, em Cacheu, quando éramos mais novos, éramos das poucas casas na comunidade que tinham geradores. Com os meus irmãos mais velhos, fazíamos projeções de filmes. Tudo começou aí.
Essa paixão pelo cinema continuou depois da sua família se mudar para Portugal?
Esse desejo de ver filmes continuou e fui escolhendo melhor o que via ou não. E também teve influência quando via as novelas em casa, também me dava vontade de fazer. Até que fiz uma peça infantil, numa igreja onde passava o tempo livre com o meu irmão e os meus primos, e a partir daí nunca mais esqueci essa experiência e quis ir além. Quando terminei de estudar, pensei em ir para a escola de teatro. E aqui estou.
Como é que uma jovem nascida na Guiné-Bissau olha para o período que o filme retrata?
Foi através da experiência de fazer o filme. Apesar de já se falar sobre o assunto, foi a primeira vez que fui fazer uma pesquisa aprofundada, onde encontrei muito mais informações do que antes. Para mim foi muito especial, no sentido em que passei a conhecer muito mais da história do meu país.
E como atriz, como decorreu o trabalho?
Foi uma grande experiência, também como guineense, trabalhar com o Sana. O Sana vivenciou esse período e lembro-me de às vezes antes de fazermos as cenas ele contar histórias. No hotel, todas as manhãs, eu ia tentar ouvi-lo contar mais histórias deste período e isso enriqueceu-me tanto, não só para a personagem mas também como pessoa. Foi uma experiência muito especial.
Quando lá voltou para fazer o filme sentiu que havia jovens interessados em começar a fazer cinema?
Existe mesmo muita vontade dos jovens. Agora com a internet a chegar a todo o lado, há muita gente muito criativa. Está a haver coisas, principalmente online, e mais acesso a filmes que possam ser vistos nos telemóveis. Querem saber coisas, querem produzir os próprios filmes, fazem pequenos sketches de comédia. Há muita vontade, mas é muito difícil, porque não há oportunidades. Acabam sempre por estar agarrados a outras atividades.
Quais as características da Nambu com que mais se identifica?
A Nambu, quando ficou grávida e o Nome fugiu, não se pôs no papel de coitada. Ela diz mesmo que não se arrepende daquilo que fez. Ela sabia que naquela situação ia ser muito difícil porque se voltasse para casa o pai ia expulsá-la, mas ela de certa forma reinventa-se e aceita as consequências. Ela quis aquilo e vai continuar com a vida dela e alguma coisa há de acontecer. É esta garra, esta vontade de viver, de que gosto muito na Nambu estou a tentar incorporar na minha vida. É uma mulher muito inspiradora.
O que foi mais difícil fazer em todo o filme?
O parto foi a cena mais difícil. Eu não sou mãe. Mas fiz uma pesquisa enorme, tentei falar com colegas que já tinham sido mães e na Guiné, quando estávamos em Buba, estive com umas parteiras, com a minha barriga falsa, a tentar perceber como é que poderia fazer o parto de forma natural. E foi engraçado falar com elas e aprender com elas. Foi uma cena em que estive nervosa o dia todo. Não queria falar com ninguém, estava super concentrada, mas acho que no fim correu bem.