Björk e Rosalía juntas em nova música contra a aquacultura de salmão na Islândia
A cantora islandesa Björk convidou a espanhola Rosalía para a nova versão da música "Oral", que esteve "perdida" 20 anos. O objetivo é ajudar os ativistas contra a criação industrial de salmão na Islândia. O lançamento está previsto para o fim de outubro.
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Björk pediu a colaboração de Rosalía, a espanhola que revolucionou o flamenco, para se juntar na luta contra a indústra de aquacultura na Islândia. Para tal, as duas dão voz a "Oral", uma obra que esteve desaparecida durante duas décadas.
Em entrevista ao diário britânico "The Guardian", Björk afirmou que a indústria de piscicultura é praticada no seu país por um "conjunto de rapazes selvagens que querem fazer dinheiro rápido e sacrificar a natureza". A receita alcançada com a música vai ser doada em parte aos ativistas contra a aquacultura de salmão, numa altura em que se registaram fugas de salmões dos tanques onde são criados.
A cantora islandesa compara os artistas a "canários nas minas de carvão" no contexto das emergências ambientais, isto porque a sua função é serem "sensíveis, com as antenas ligadas o tempo todo" e perceber como se sentem no ambiente e "estar atentos". Por isso, vinca que a classe artística "atende a essa emergência" e quer "agir sobre ela".
Numa publicação no YouTube, a intérprete de "Utopia" explica que "os habitantes de Seyðisfjörður têm protestado contra o negócio que começou ali. Queremos doar-lhes parte das receitas com a venda deste tema, para ajudar com as despesas em tribunal" e diz esperar que este "seja um exemplo para outros".
A compositora afirma ter ficado em choque quando se apercebeu que "os empresários irlandeses e norugueses começaram a comprar zonas de aquacultura nos fiordes islandeses. "Provoca um efeito devastador na nossa vida selvagem, e os peixes estão a sofrer com as condições horríveis". Além disso, "como muitos deles escaparam, começaram a alterar o ADN do salmão islandês para pior, o que pode conduzir à sua extinção", pode ler-se no vídeo.
Em fevereiro deste ano, um relatório governamental do país nórdico dava conta de que o setor "cresceu rapidamente na última década" e que a supervisão era "fraca e fragmentada".
Cantora islandesa lembrou-se de "Oral" em março
A música "Oral" foi escrita há 20 anos, esteve perdida durante todo este tempo, mas foi encontrada pela cantora em março deste ano. Björk contou ao jornal islandês "Visir" que a canção "não combinava muito com os álbuns em que estava a trabalhar na época, "Homogenic" e "Vespertine", porque "era uma música meio aleatória e não sabia o que fazer com ela".
"A batida era muito primitiva, mas foi um pouco inspirada pelo estilo dancehall da Jamaica", explicou a artista conhecida pelo seu estilo eclético.
A ideia em torno da colaboração com Rosalía passa por adaptar a canção aos dias de hoje, por isso, a islandesa optou por convidar a espanhola porque o "dancehall é o avô do reggaeton" e Rosalía "tem muito reggaeton no seu álbum". Além disso, pensou que a intérprete de "Motomami" estaria interessada em "fazer alguma coisa para ajudar o ambiente".
Rosalía, que terminou uma digressão no mês passado, só pôde enviar a sua parte da música "há algumas semanas", subsituindo as partes de Björk em alguns momentos. Apesar disso, a compositora de "Oral" ressalva que estão "a produzir juntas". A nova versão com as duas foi produzida por Sega Bodega.
Não é "uma canção ativista"
Björk ressalva, contudo, que esta "não é uma canção ativista", é sim uma música "de amor" e não fala sobre peixe. "Embora seja possível escrever uma boa canção sobre peixe", referiu a intérprete de "Atopos".
Para melhorar a comunicação da parceria, as publicações da artista nas suas redes sociais foram escritas também em espanhol.
Esta é mais uma ação de Björk relacionada com o ativismo, depois de ter adiado a atuação num festival na Islândia em protesto contra a construção de 50 barragens e de se ter juntado a Greta Thunberg, em 2019, para pressionar o primeiro-ministro islandês a declarar uma emergência climática.
Em 2008, lançou a música "Náttúra", com a colaboração de Thom Yorke, cujas receitas reverteram para o fundo ambiental que ajudou a criar para impedir a construção de fábricas de alumínio.