Bob Vylan: Punk, rap, crítica social e controvérsia na estreia do grupo em Portugal
Os Bob Vylan atuam, na quarta-feira, pela primeira vez em Portugal, no Lisboa ao Vivo (LAV). O concerto em nome próprio surgiu depois do cancelamento como abertura dos espetáculos dos Gogol Bordello, marcados para o fim de semana em Lisboa e no Porto.
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É um exercício quase impossível, o de dissociar o duo londrino Bob Vylan das várias controvérsias que os envolveram nos últimos meses; mas foi um percurso musical marcado por sonoridades punk, grime, rap, hip hop e hardcore, expressas em três álbuns independentes e de algum sucesso, que primeiro os levou a digressões mundiais e a festivais como Glanstonbury, no Reino Unido. Uma vez lá, foi quando a polémica se começou a desenhar, mantendo-se desde então uma aparente constante na banda, que sempre foi conhecida pelas letras acutilantes e políticas, carregadas de crítica social e de condenação da desigualdade, violência policial, homofobia e racismo.
A dupla, composta pelo vocalista e guitarrista Bobby Vylan e pelo baterista Bobbie Vylan, nasceu em 2017 na cidade de Ipswich, mas está há anos sediada em Londres, andando atualmente na estrada a apresentar o seu mais recente disco, "Humble as the sun", de 2024 -que subiu nas vendas musicais britânicas e no Spotify depois da controversa atuação no Festival de Glastonbury deste ano.
É com este disco que o grupo chega esta quarta-feira ao LAV, citando influências sonoras que vão dos Sex Pistols a Dizzee Rascal, sem esquecer a herança jamaicana do vocalista. A banda fez-se primeiro conhecer em 2020, com o álbum "We live here", edição independente que passou relativamente despercebida, ao contrário do segundo, "Bob Vylan presents the price of life", de 2022, que conseguiu boas posições nas tabelas, entre concertos no Festival de Reading e digressões com bandas como os Offspring e os The Hives.
De fora da tour dos Bordello
A resenha das controvérsias remete ao final de junho deste ano, quando o grupo apelou à libertação da Palestina em pleno concerto no Festival de Glastonbury, que estava a ser transmitido em direto na BBC, acabando por gritar "morte às IDF", referindo-se ao exército israelita - e levando o público a fazer o mesmo.
Os organizadores do festival manifestaram-se imediatamente, dizendo-se chocados com os cânticos e garantindo não haver, no evento, lugar "para antissemitismo, discurso de ódio e incitação à violência", mas as reações não se ficaram por aí. O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, pronunciou-se contra o sucedido, a BBC emitiu um pedido de desculpas público e a polícia britânica anunciou a abertura de uma investigação sobre os comentários feitos pelos Bob Vylan, e também pelos Kneecap, em Glastonbury - processos que ainda estão a decorrer.
Os EUA também anunciaram que o país revogava os vistos dos elementos do duo, eliminando a tour que ali iria acontecer, a agência de reservas de concertos UTA dissociou-se do grupo e a reação ecoou em vários pontos do mundo, com concertos cancelados no Reino Unido e Alemanha.
Mais tarde, o coletivo foi retirado da digressão dos Gogol Bordello, grupo que atua em Lisboa, dia 11 de outubro, também no LAV, e no dia 12 de outubro no Hard Club do Porto; sendo depois anunciada, pela nova promotora I Want More, a data própria de 8 de outubro na sala lisboeta, com bilhetes a partir dos 25 euros (30 euros no próprio dia).
Nas últimas semanas, a dupla voltou aos escaparates, ao ter mais um espetáculo cancelado nos Países Baixos, após Bobby Vylan (que se chamará, na realidade, Pascal Robinson-Foster) ter feito comentários, no clube Paradiso de Amesterdão, sobre o assassinato do norte-americano Charlie Kirk.
No LAV, a primeira parte fica a cargo dos Scúru Fitchádu, grupo de Marcus Veiga com sonoridades cabo-verdianas e africanas, mescladas com punk eletrónico. O concerto começa a partir das 20 horas, e segundo dá a entender a promotora I Want More nas suas redes, os Bob Vylan poderão mostrar uma música nova em Lisboa.