Encenador norte-americano falecido a 31 de julho será alvo de homenagens por toda a Europa e EUA.
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A figura do encenador de teatro, tal como a conhecemos - um maestro de toda a "polifonia significante" que constitui o espetáculo -, não remonta aos alvores da arte teatral no século V a. C., é, na verdade, recente no fio da história: final do século XIX, em Paris, no Théâtre Libre de André Antoine, geralmente considerado o primeiro encenador moderno, o primeiro "artista do teatro".
Sucedeu-lhe um friso de grande criadores que foram definindo outras direções para os "teatros" - o singular não existe, como explicou Jacques Nichet: Stanislavski, Meyerhold, Craig, Copeau, Grotowski, Brook ou Mnouchkine. Cada um adicionou novas possibilidades e imaginários à cena. É nessa linhagem que está Bob Wilson, falecido a 31 de julho com 83 anos.
Foram já glosadas na imprensa as características principais do seu teatro, feito de movimentos mínimos, silenciosos e repetitivos que tendiam à abstração, feito de novos corpos: de pessoas cegas, surdas, com deficiências; feitos de luz feérica e rigorosa; e feitos de uma nova temporalidade: "A vida e o tempo de Josehp Stalin", de 1973, é uma ópera com mais de 12 horas; e "Ka Mountain", apresentando num festival de artes em Shiraz, no Irão, decorreu ao longo de sete dias ininterruptos e envolveu mais de 700 participantes - uma recuperação pós-moderna dos "mistérios" medievais, que duravam também vários dias.
Bob Wilson consolidou uma operação em marcha desde as primeiras vanguardas do século XX: a emancipação da teatralidade - já não sujeita à supremacia do texto, que utilizou mais como detonador de quadros e situações do que como guião dramático. Fabricou algumas das mais belas, misteriosas e desconcertantes imagens cénicas dos últimos 50 anos.
Em teatros e instituições culturais de Paris, Milão, Veneza, Atenas, Barcelona e várias cidades dos EUA estão previstas homenagens ao encenador, através da reposição de espetáculos, exposições ou conferências. Seria ótimo assistir a um movimento semelhante em Portugal, por onde também passou a aventura teatral de Bob Wilson.