Livraria Lello formalizou compra do teatro há um ano, mas arrendatários afirmam que não ponderam sair.
Corpo do artigo
Tarda em sair do papel o "projeto multidisciplinar" anunciado pela Livraria Lello aquando da formalização da compra do Teatro Sá da Bandeira (TSB), no Porto, em junho do ano passado, pelo valor de 3,5 milhões de euros.
Na altura, a administradora da histórica livraria, Aurora Pedro Pinto, revelou "o sonho louco" que passava pela "união de dois monumentos centenários no Porto", criando "um conjunto de patrimónios ligados à cultura".
Dois anos decorridos sobre a compra em hasta pública, pouco ou nada mudou, na verdade. As prometidas obras de restauro e conservação do edifício, repondo o seu estado original, ainda não arrancaram sequer e, segundo apurámos, tal não deverá acontecer até que esteja resolvida a contenda com os arrendatários, Rocha Brito & Vigoço, que, através do seu gerente, Manuel João Ribeiro, garantiu ao nosso jornal que "não está a ponderar abandonar o espaço de que é arrendatário desde 1910". "Mantemos o empenho na exploração do teatro em toda a sua plenitude", reforçou.
Inquilinos protegidos
Dino Gomes, da mesma empresa, afirma que "a Lello sabia da nossa posição antes de comprar o edifício" e mostra-se tranquilo quanto a eventuais "démarches" judiciais que possam pôr em causa a continuidade. O funcionário relembrou que o "Sá da Bandeira" integra o "Porto de Tradição", selo que, ao reconhecer os espaços de indiscutível interesse histórico, cultural, social ou local, protege os arrendatários de eventuais apetites imobiliários, incluindo o aumento desenfreado das rendas.
Contactada pelo JN, a Lello remeteu o assunto para o escritório de advogados incumbido do caso, que, por sua vez, declarou "não ser este o momento oportuno para prestar declarações". Miguel Carvalho, da Telles Abreu Associados, adiantou ainda que a demora está relacionada com a complexidade do processo e a necessidade de serem "analisadas todas as possibilidades". Questionado se essa análise incluiria a tentativa de despejo dos atuais inquilinos, o advogado não quis comentar.
Porém, o "Jornal de Notícias" apurou que o estudo encomendado pela Lello para avaliação das condições de segurança do edifício detetou um conjunto de falhas suscetíveis de fazerem perigar o contrato de arrendamento.
Ao JN, a Rocha Brito & Vigoço confirmou as conclusões da auditoria, mas revelou que "as pequenas falhas de segurança pendentes de resolução foram completamente reparadas e o TSB é hoje um dos teatros mais seguros do país".
Anterior proprietária do teatro, a Câmara Municipal do Porto - fortemente criticada pelos inquilinos por, alegadamente, não ter respeitado o direito de preferência que lhes cabia - recusou-se a prestar declarações.