A Capital Portuguesa da Cultura abriu oficialmente portas este sábado e a programação do dia foi reflexo da agenda já anunciada: a cidade quer uma vivência cultural verdadeiramente de e para todos. Grande espetáculo de abertura terminou com drones e fogo-de-artifício. Avenida Central encheu-se, apesar da chuva intensa.
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Da artista de eletrónica Kara-Lis a estrear-se no órgão de tubos da Basílica dos Congregados ao grande espetáculo, que, além de Mariza, Dino d’Santiago e iolanda, contou com centenas de artistas em palco, uma performance com drones e, fogo-de-artifício, houve uma abertura para todos os gostos.
Depois de uma manhã que prometia aliviar uma semana de chuvadas, à noite, à hora marcada para dar início às festividades na Avenida Central, uma carga de água caiu sobre Braga. Mas nem a chuva intensa afastou o público, enchendo-se o espaço entre os três palcos montados. Num palco estavam 110 crianças e jovens do Coro do Bomfim, noutro bailarinos de folclore minhoto e b-boys de breaking – os mesmos do espetáculo da manhã, “Quimera” – e noutro ainda os três "cabeça-de-cartaz”.
A atriz Margarida Vila-Nova foi a cicerone do momento e durante cerca de uma hora foi guiando o público pelo que ia acontecendo, apresentando cada artista enquanto enaltecia a importância da cultura, não só bracarense, como nacional. Não faltou o necessário a qualquer aula de História: referências a Camões ou a Fernando Pessoa, entre outros.
O momento de Mariza
“Abre a tua Porta”, assim chamado o espetáculo com curadoria de John Romão, seguiu-se com um vai e vem (e ate duetos) entre Dino d’Santiago e iolanda, que interpretaram músicas suas adaptadas à participação do coro infantil, bem como reinterpretaram canções ligadas à região. O cantor de ascendência cabo-verdiana, que tinha já começado por pedir ao público que o permitisse cantar em crioulo, quis encerrar o espetáculo com o mote da própria Braga 25. “Braga é uma cidade de portas abertas para os que aqui têm escolhido viver, em especial a comunidade brasileira.” E são também essas pessoas que fazem este título.
Com o momento só para si ficou Mariza, que se destacou, além do reluzente vestido prateado que brilhava por entre a chuva, por ter interpretado as suas cinco músicas de rajada. A sobejamente conhecida “Melhor de mim” foi escolhida para encerrar o repertório, tendo sido acompanhada pelo público em uníssono, do início ao fim.
O megalómano momento de abertura da Capital Portuguesa da Cultura terminou com um espetáculo de drones, que, a acompanhar um vídeo de exaltação de Braga como já há muito capital da cultura, iam desenhando ícones da cidade, do Bom Jesus, à mulher minhota e passando pelo sino. No final, foi, agora nos céus, mais uma vez apresentada a nova logomarca da cidade. Seguiram-se ainda cinco minutos de fogo-de-artifício, que findaram num mar de palmas.
Novas dinâmicas
Mas o espetáculo de dimensão de festival não foi o único momento a marcar o dia. Durante a tarde, houve ainda espaço para as Mulheres do Minho se juntarem aos jovens talentos da Gulbenkian. O concerto, preparado como mais do que isso, com momentos de representação estrategicamente pensados, foi recebido com uma casa-cheia. Em palco ficou patente a ligação que este cruzamento criou: era visível o carinho entre as mulheres na casa dos 50, 60 ou 70 anos, do grupo de cantares, e os músicos ainda adolescentes.
E é também destas novas dinâmicas - como tínhamos já percebido de manhã, com “Quimera” - que se fazem a capital da cultura, que mostrou, só no primeiro dia, que tem como objetivo perpetuar o seu legado no tempo, esperando que a dinâmica entre folclore e breaking ou Mulheres do Minho e jovens instrumentistas, perdure para lá deste momento. E possa talvez, por si, criar outros.
Já Kara-Lis Coverdale, a apresentar a peça que criou em exclusivo para o órgão de tubos da Basílica dos Congregados numa residência artística com o projeto Pipe Poetics, foi o momento mais introspetivo da programação. Num soar solene do órgão, foi aproximando-o, aqui e ali, ao soar eletrónico.
O ambiente vivido em Braga neste dia 25 foi prova de que esta capital não se faz só da cultura institucional, como dizia ao JN o diretor artístico Luís Fernandes, semanas antes. Durante todo o dia, por toda a cidade, a dinâmica cultural informal já existente foi acontecendo como até aqui, desta feita com um fervilhar acrescido pela programação da agenda. Os jovens artistas que se juntam aqui e ali a trocar ideias ou a preparar projetos, as constantes iniciativas de locais como o Sé Lá Vie (entre outros) ou o concerto de hip-hop, na noite de sábado, no Lustre (com os incontornáveis Dealema) são também as razões pelas quais Braga é capital da cultura.