Spike Lee antecipou-se de revelou prematuramente o vencedor do festival de cinema francês.
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Spike Lee cometeu uma das maiores gafes da história do Festival de Cannes, anunciando desde logo em alta voz a Palma de Ouro antes da entrega dos restantes prémios. Como dissemos aqui, "Titane" de Julia Ducournau foi a obra que dividiu o certame. Filme de horror sobre uma jovem assassina em série, trata-se para uns de um novo Cronenberg, para outros uma fraude pretensiosa, como aliás a sua autora. Mas o júri não teve dúvidas e "Titane" é o vencedor de Cannes 2021.
Nadav Lapid e Apichatpong Weerasethakul partilharam o Prémio do Júri, um dos galardões de compensação, pelos filmes "Le genou d"Ahed" e "Memória". Os prémios de interpretação foram divididos por Caleb Landry Jones, pelo australiano "Nitram", onde interpreta um jovem com problemas mentais que praticou o maior massacre do país; e por Renate Reinsve, a "Julie em 12 capítulos" do norueguês Joachim Trier. O outro prémio de consolação, o Grande Prémio, também teve dois vencedores, o finlandês "Compartment no. 6" e o iraniano "Um herói".
"Drive my car" de Ryusuke Hamaguchi foi ditinguido com o prémio de Melhor Argumento, conquistando ainda o Prémio da Crítica e o Prémio do Júri Ecuménico, transformando-o num dos grandes vencedores de Cannes 2021. Leos Carax não regressou a Cannes para receber o prémio de realização por "Annette", que seria entregue aos dois elementos da banda Sparks, autora da banda original do filme.
50 mil testes, 70 positivos
A Camera d"Or, que premeia a melhor primeira obra, foi entregue ao filme croata "Murina", um sonho enigmático sobre a eterna questão da beleza, de Antoneta Alamat Kusijanovic, presente na Quinzena dos Realizadores. Quanto à Palma de Ouro da Curta-Metragem, a que concorria o português "Noite turva", foi para Hong Kong, com "All the crows in the World", sobre uma noite de aventuras de uma jovem de 18 anos entre adultos.
Um dos grandes momentos de celebração do verdadeiro cinema ocorreu quando o mestre italiano Marco Bellocchio recebeu a Palma de Ouro de Honra, depois de ter apresentado no festival, fora de competição, o documentário autobiográfico "Marx pode esperar", sobre a morte prematura do seu irmão gémeo.
E assim terminou a 74.ª edição do Festival de Cannes, marcada pela pandemia, depois de um ano de ausência. E não se pode negar que tenha sido um sucesso. Thierry Frémaux, responsável pela programação, afirmou várias vezes, nas apresentações dos filmes, que daqui a alguns anos quem veio pode dizer: "Eu estava lá, em 2021". É verdade que se notou a falta de imensos jornalistas, nomeadamente oriundos de países com medidas mais apertadas. Mas o público em geral, nomeadamente jovens, compensou essa ausência e a maior parte das sessões esteve cheia.
Frémaux também fez o ponto da situação sanitário: durante os 12 dias do festival foram realizados 50 mil testes covid, gratuitos para quem ainda não dispunha do passe sanitário, e foram encontrados 70 casos positivos. Sinal de que, se todos forem conscientes, a sala de cinema não é um local perigoso. Esperando que num mundo mais a salvo, o encontro esteja marcado para 2022, para a 75ª edição de Cannes - espera-se que de novo em maio.
Palmarés
Palma de Ouro:
"Titane", de Julia Ducournau
Grande Prémio:
"Um herói", de Asghar Farhadi
Prémio do Júri:
"Le genou d"Ahed", de Nadav Lapid
"Memoria", de Apichatpong Weerasethakul
Prémio de Realização:
Leos Carax, por "Annette"
Prémio de Argumento:
"Drive my car", de Ryusuke Hamagushi
Prémio de Interpretação Masculina:
Caleb Landry Jones, por "Nitram"
Prémio de Interpretação Feminina:
Renate Reinsve, por "Julia em 12 capítulos"
Prémio de Curta-Metragem:
"All the crows in the World", de Yi Tang
Camera d"Or:
"Murina", de Antoneta Alamat Kusijanovic
Prémio da Crítica e do Júri Ecuménico:
"Drive my car", de Ryusuke Hamaguchi