A Ucrânia proibiu a russa Yulia Samoilova de entrar no país pelo facto de a mesma ter estado na Crimeia -território ucraniano anexado pela Rússia em 2014 - sem autorização das autoridades ucranianas.
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"O Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) negou a entrada da cidadã russa Yulia Samoilova na Ucrânia durante três anos. A decisão foi tomada com base em dados sobre sua violação da lei do país", disse a porta-voz da SBU, Olena Hitlyanska, à agência de notícias AFP.
A proibição põe em risco a participação da cantora na Eurovisão, que se realiza em maio na capital da Ucrânia.
O Vice-ministro dos Negócios Estrangeiros Russos, Grigory Karasin, disse à agência de notícias russa Sputnik que Moscovo considera a decisão de Kiev "revoltante, desumana e cínica".
A tensa relação entre os dois países não é de agora. Em 2014, a Crimeia juntou-se à Rússia, no seguimento de um referendo nacional em que 97% dos residentes votou para a reunificação. Mas a Ucrânia continua sem reconhecer a independência.
Os organizadores do Festival da Eurovisão criticaram fortemente a proibição, afirmando estarem "profundamente desiludidos" com a decisão de Kiev.
"Temos de respeitar as leis do país anfitrião, mas estamos profundamente desiludidos com esta decisão, por considerarmos que vai não só contra o espírito do festival como contra a noção de inclusão que se encontra na base dos seus valores", disse a European Broadcasting Union, sediada em Genebra, num comunicado divulgado esta quarta-feira.
De acordo com o texto, os organizadores vão "continuar a dialogar com as autoridades ucranianas" para garantir que todos os concorrentes poderão atuar em Kiev em maio.
A cantora, de 27 anos, cujo sonho é representar o país no Festival Eurovisão da Canção, confirmou ter atuado na Crimeia em 2015, sem permissão das autoridades ucranianas que, desde então, estão a investigar o caso.
Samoilova foi anunciada a 12 março como a voz escolhida para representar a Rússia na próxima Eurovisão - um festival que assume como politicamente neutro - com a canção "Flame is burning".
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Em outubro passado, os serviços de segurança ucranianos já tinham colocado na lista negra 140 artistas russos, por abertamente apoiarem a anexação da Crimeia e os rebeldes separatistas pró-russos no leste da Ucrânia. Samoilova não se encontrava entre eles.
Uma série de políticos ucranianos tinha instado as autoridades a não serem benevolentes com Samoilova devido à deficiência motora, com que vive desde criança.
Numa mensagem divulgada no início deste mês na rede social Facebook, o deputado ucraniano Oleksandr Brygynets acusou a Rússia de se "esconder atrás de uma pessoa deficiente", afirmando que Moscovo esperara que a Ucrânia não se atrevesse a "proibir a entrada de uma pessoa em cadeira de rodas" por violar a lei.
A cantora encontra-se numa cadeira de rodas em consequência de efeitos secundários de uma vacina que levou na infância, de acordo com a biografia disponível na sua página da Internet.