Novo filme do realizador chinês Guan Hu estreia esta quinta-feira e é de visão imperdível.
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Com uma enorme tradição por detrás, muito ligada, como de resto em outras paragens, à evolução social e política do seu país, o cinema chinês, apesar de não ser muito visto entre nós, continua a estar presente nos maiores festivais do mundo, de onde sai regularmente com vários prémios.
E não se trata apenas da obra de autores já conhecidos, como Wang Bing ou Jia Zhang-ke. Este último, por sinal, como que apadrinha, enquanto ator num pequeno papel, o assombroso “Cão Preto”, de Guan Hu, vencedor do Un Certain Regard de Cannes.
Só para se ter uma ideia do que há para descobrir no mundo do cinema, “Cão Preto” é o primeiro filme de Guan Hu a estrear em Portugal, mas o cineasta já realizou mais de duas dezenas de trabalhos em trinta anos de carreira!
“Cão Preto” organiza-se em torno do regresso de Lang à sua pequena localidade situada no nordeste da China, após dez anos passados na prisão, por um homicídio involuntário, descobrindo que o seu pai está a morrer.
Mas a China prepara-se para receber os Jogos Olímpicos de 2008, a sua terra vai ser demolida para dar lugar a instalações mais modernas e a liquidação das matilhas de cães selvagens que a percorre é a prioridade das autoridades. Lang e um muito procurado cão preto vão tornar-se os fiéis amigos um do outro…
O que impressiona desde logo em “Cão Preto” é a utilização dos espaços. Uma paisagem árida que, para além de décor, surge como personagem. Podíamos estar num filme de John Ford ou de Sergio Leone. Lang poderia mesmo ser uma referência a outro grande homem do cinema como ambiente arquitetónico. E a personagem, algures entre John Wayne e Mad Max, sublinha o seu individualismo, a sua solidão, num mundo exterior que se deteriora.
São muitas as possíveis simbologias deste impressionante “eastern” que termina, em esplendorosa afirmação de cinema, com o team “Mother”, do álbum “The Wall”, dos Pink Floyd. Ou uma mãe China que vai derrubando as suas muralhas.