Vinte músicos. Noventa e seis concertos. Trinta e duas casas. Este sábado, as pessoas de Guimarães deram o palco a músicos portugueses que lhes entraram pelas casas dentro para darem pequenos concertos. "Mi casa es tu casa" foram 12 horas de música intimista, grátis e ao vivo.
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Imagine que tocam à campainha e à porta está um músico. "Olá. Eu sou o Samuel Úria e estou aqui para dar um concerto". A população abriu a porta de casa para acolher músicos e duetos que integram a Fundação Orquestra Estúdio, estrutura basilar da Guimarães 2012 - Capital Europeia da Cultura.
Foi o mote para criar um alvoroço na cidade. O ambiente intimista proporcionado pela música e, por vezes, pelo excesso de pessoas num pequeno espaço, era quente. A entrada limitada. Em alguns casos, apenas seis pessoas podiam assistir aos concertos. Outras casas havia em que o número da assistência era ligeiramente superior.
Assim foi no terceiro andar do número 84 do Largo Bernardo Valentim Moreira de Sá, onde mora Simão Carvalho. Lá, estiveram cerca de 30 pessoas a assistir ao concerto de Samuel Úria. Antes de entrarem, o morador de Guimarães dizia: "A porta está aberta, subam se quiserem".
Um a um, desconhecidos entravam na casa de Simão, transformada num palco de espectáculos. Não foi por muito tempo. Com casa cheia, literalmente, Samuel Úria entoava "Teimoso" perante o público atento. O concerto tinha começado às 18 horas. Ora no chão, ora de pé, os visitantes e o músico protagonizavam o "show" bem ao lado da cozinha de Simão e esposa.
Minutos mais tarde, pelas 19 horas, Mafalda Veiga actuava na Rua Ferreira de Castro, número 161. Na casa seguinte, no Largo João Franco, número 43, Aldina Duarte e António Zambujo também tocavam ao domicílio. No 6.º direito do edifício Quinta do Mosteiro, Luísa Sobral actuava perante 20 pessoas.
Foi assim até à meia-noite, num total de 96 concertos, em que cada casa recebeu entre duas a quatro actuações. Passaram pelas habitações nomes como Nuno Prata, Paulo Praça, Virgem Suta, Capitão Fausto ou Best Youth. Alguns destes músicos deram os concertos mais pequenos de sempre, em termos temporais e de público.
Ainda assim, cumpriu-se "uma componente fundamental do que deve ser a Capital Europeia da Cultura, que é o envolvimento da população", referiu, ao JN, Fernando Alvim. O humorista, que concebeu o conceito de "Mi casa es tu casa", revela que a ideia foi "inverter o normal funcionamento das coisas".
Os músicos da Fundação Orquestra Estúdio, encarregados dos espectáculos da parte de tarde, aproveitaram para "conhecer melhor a cidade e as suas casas", referia Mónica, sueca que integra o conjunto. Os vimaranenses também: "Aproveito para ver um concerto grátis e para conhecer as casas do centro histórico por dentro", referia Lúcia Castro, de 23 anos, que seguia para a actuação seguinte.