Contextile recebeu 1150 obras candidatas a concurso internacional que vai expor 58 em Guimarães. Bienal dedica 5.a edição aos "Lugares de Memória".
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A Contextile, bienal de arte têxtil contemporânea, registou um aumento de 40 % do número de artistas interessados no concurso internacional, o "evento-âncora" que expõe e premeia, em Guimarães, peças feitas a partir do têxtil de todos os pontos do planeta.
A 5.a edição da bienal foi anunciada na semana passada, vai mesmo acontecer em 2020, de 5 de setembro a 25 de outubro, e quer voltar a transformar a Cidade-Berço num palco onde a arte têxtil contemporânea invade as praças e os museus. Localmente, o impacto da Contextile no calendário cultural já não é novidade, pois nasceu na Capital Europeia da Cultura de 2012 e desde esse ano tem vindo a ganhar protagonismo.
Mas é no resto do Mundo que a expressão da Contextile é cada vez maior, como demonstram os números revelados por Joaquim Pinheiro, da organização, a cargo da cooperativa cultural Ideias Emergentes: "Recebemos candidaturas de 870 artistas, um aumento de 40% face a 2018, e um total de 1150 obras, visto que cada artista podia apresentar uma ou duas obras".
Destas, foram selecionadas 58 peças de 50 artistas oriundos de 29 países. A escolha coube a um júri internacional e as obras vão estar expostas no palácio do Centro Cultural de Vila Flor durante a Contextile. "Devido à pandemia, recebemos menos dos países asiáticos, mas aumentaram muito as candidaturas da América Central e do Sul", denota o organizador.
A última edição, em 2018, ficou marcada pela intervenção em grande escala de Ann Hamilton, enquanto artista convidada. Este ano, a organização fez um convite duplo, a Magda Sobon (Polónia) e a Stephen Schofield (Quebec, Canadá).
Magda doou, em 2016, uma das peças da coleção "Love Letters" à Contextile, uma obra de média dimensão inspirada em correspondência trocada via e-mail, plasmada em linguagem binária numa base de volume irregular moldada em papel fabricado à mão. Este material atravessa quase todo vasto catálogo da artista, que pisa a bienal pela terceira vez, a primeira como convidada.
Stephen Schofield é mais abrangente ao nível metodológico - recorre frequentemente ao desenho, performance e escultura de porcelana - mas mais redutor na temática, habitualmente transmitida com recurso a formas do corpo humano. Os artistas convidados, as residências artísticas e o concurso internacional têm como tema "Lugares de Memória".
70% dos empregos
Num território onde o setor têxtil é responsável por 70% dos empregos, é fácil deduzir que amplitude temporal e de espaço da temática é colossal. "São os lugares físicos e virtuais das nossas memórias do território, a memória aliada ao património e vivências", justifica Joaquim Pinheiro, ressalvando a sempre presente "ponte para o contemporâneo".
O adiamento da edição deste ano da Contextile foi equacionado por causa da covid-19, mas a organização decidiu manter o evento que também tem programa educativo para a criação têxtil, instalações de espaço público, workshops, conversas e uma mostra de cinema ao ar livre. Segundo Joaquim Pinheiro, a pandemia "está a interferir com o calendário" devido à dificuldade de transporte das obras e das viagens dos artistas para Portugal.