A biografia na primeira pessoa do mais famoso gangster americano, pela mão dos franceses Swann Meralli e Pierre-François Radice.
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Alphonse Gabriel Capone, mais conhecido como Al Capone e também por Scarface (cicatriz), é, possivelmente, o mais famoso gangster norte-americano. Tão famoso, que foi até elevado à categoria de lenda, inclusive por ter escapado sempre às forças da ordem até ter sido preso por 'meras' questões de fuga ao fisco, apesar dos muito mais graves crimes que ao logo da sua vida foi cometendo.
Dessa forma, é natural que se tenham multiplicado as obras centradas na sua biografia, com maiores ou menores doses de realismo e/ou ficção, porque 'quem conta um conto, acrescenta um ponto'.
Por isso, fazia falta uma auto-biografia sendo isso a que, paradoxalmente se propuseram os franceses Swann Meralli e Pierre-François Radice, ao assumirem a narrativa na primeira pessoa dos acontecimentos marcantes da vida de Capone, supostamente relatados por ele à sua mãe, quando ela se deslocava à prisão para o visitar.
O seu nascimento em Brooklyn em 1899, a infância difícil, a adolescência conturbada, a cada vez mais profunda ligação ao meio mafioso nova-iorquino em que procurou integração, protecção e possibilidade de afirmação, o casamento, as alianças ao sabor dos seus interesse, a mudança para Chicago que viria a dominar e a tal prisão final são ingredientes de uma narrativa que acompanha os 48 anos da sua vida.
Nada de muito invulgar, dirão alguns, mas a verdade é que o argumento de Meralli introduz num relato muito bem documentado, uma variação que, para além da originalidade, lhe confere um tom desafiante pelo desfasamento entre o que os diálogos contam e o que as imagens mostram: enquanto 'ouvimos' Capone narrar à sua mãe - e raras vezes à expressão 'à sua santa' fez tanto sentido - o que foi vivendo, num relato expurgado de toda e qualquer dose de violência ou de ilegalidade (não justificada), as imagens vão expondo explicitamente a forma brutal e cruel como foi subindo na hierarquia criminosa, sem olhar a meios nem a quem tinha de abater para conseguir os seus fins.
E como complemento, um relato traçado com um desenho que primeiro se estranha, mas que depois se revela mais expressivo do que dinâmico, marcando dessa forma um ritmo mais lento que permite um melhor aproveitamento da leitura.
Esta abordagem dual, aliás, está bem patente na capa, em que o rosto de Capone não está apenas parcialmente na sombra...