A partir de hoje, Carlos Prado assume funções como diretor artístico da Companhia Nacional de Bailado. Um mandato de três anos. Prado substitui Sofia Campos, cuja saída foi anunciada pelo Governo a 14 de julho, com uma nota de agradecimento pelo trabalho desenvolvido.
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Olhando para a Companhia Nacional de Bailado (CNB) nos últimos cinco anos, a renovação tem sido uma constante. Em outubro de 2016, Luísa Taveira cessava funções depois de ser nomeada para o conselho de administração da Fundação Centro Cultural de Belém. O seu mandato durou seis anos e seguiu-se ao de Vasco Wellenkamp.
Para substituir Luísa Taveira, antiga bailarina da casa, entrou Paulo Ribeiro, coreógrafo experiente que tinha ocupado diversos lugares de relevo na direção do Teatro Viriato e do Ballet Gulbenkian. Acabaria por bater com a porta no verão de 2018, dizendo: "Falta dinheiro e falta vontade política para levar a CNB para a frente". A este seguiu-se Sofia Campos, até então na administração do Teatro Nacional D. Maria II. Uma das suas bandeiras era fazer da CNB "um museu vivo da história da dança". Findo o seu mandato de três anos, a grande maioria em pandemia, sem direito a renovação, sai para ser substituída por Carlos Prado. Se a tradição se cumprir, os mandatos mais duradouros são os de antigos bailarinos da casa.
Apesar da CNB ter alguma estabilidade, com o mecenato cultural da EDP assegurado desde 1998, tem enfrentado sérios problemas laborais. A última crise foi em 2019, antes da pandemia, com um período de greve em que os trabalhadores reivindicavam "o cumprimento do acordo relativo ao regulamento interno de pessoal, o aumento geral de salários, o cumprimento do pagamento de trabalho suplementar e a revisão do regime geral dos bailarinos". Em 2019, os trabalhadores queixavam-se também da falta de condições no Teatro Camões, em Lisboa, casa da companhia, após a queda de uma vara no cenário que feriu dois técnicos e obrigou a suspender os espetáculos. Estes serão algumas dos dossiês que Prado herda, restando saber qual será a temporada que irá apresentar, sendo certo que terá de cumprir os compromissos assumidos pela antecessora.
Prata da casa
Carlos Prado tem 59 anos e nasceu em Setúbal em 1962. Ingressou em 1984, com 22 anos, na CNB, sob a direção artística de Armando Jorge, ali ficando até 1990. Dançou repertório clássico, incluindo "Giselle", "Coppelia", "O lago dos cisnes", "Dom Quixote", "Napoli" e "Raymonda", assim como repertório contemporâneo de coreógrafos conhecidos como Georges Balanchine, Kurt Joss, José Limón e Óscar Araiz. Em 1990, a convite de Jorge Salavisa, passou a integrar o elenco do Ballet Gulbenkian como primeiro bailarino, função que cumpriu durante 15 anos, até à extinção da companhia em 2005.
Em 2005 iniciou uma carreira como independente, tendo recebido convites de várias companhias e coreógrafos para colaborar como professor, e para remontar variadíssimos trabalhos, em locais como o NYC Ballet e o Ballet de Bolshoi. Na qualidade de assistente do coreógrafo Mauro Bigonzetti, Prado trabalhou com importantes companhias no Teatro alla Scala de Milão, Bolshoi Moscovo, Ballet de Santiago do Chile, New York City Ballet e na Ópera de Paris.
Uma companhia com 43 anos
A Companhia Nacional de Bailado apresentou o seu primeiro espetáculo no Teatro Rivoli, no Porto, a 5 de dezembro de 1977. Foi criada por despacho do então Secretário de Estado da Cultura, David Mourão Ferreira, que extinguiu o Grupo de Bailados Portugueses Verde Gaio.
A CNB teve ao longo de 43 anos dez diretores: Carlos Prado, Sofia Campos, Paulo Ribeiro, Luísa Taveira (ocupou a função duas vezes, nos períodos 2010-2016 e 1999-2000), Vasco Wellenkamp, Mehmet Balkan, Marc Jonkers, Jorge Salavisa, Isabel Santa Rosa e Armando Jorge (no cargo durante 15 anos: 1978-1993).