Companhia Nacional de Bailado inicia amanhã nova etapa com "Noite Branca".
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Carlos Prado chegou "há duas semanas e quatro dias" à Direção da Companhia Nacional de Bailado (CNB) e não disfarça o empolgamento. Amanhã, a companhia estreia no Teatro Camões, em Lisboa, o programa "Noite Branca", uma homenagem aos atos brancos (parte dos balés românticos em que figuras etéreas como fadas surgem vestidas de branco) dos bailados clássicos com obras de George Balanchine, Yannick Boquin. Também revela "Snow", do coreógrafo português Luís Marrafa.
"Há muito tempo que as mulheres da CNB não faziam um programa tão difícil, é necessária muita perseverança", diz ao JN. Ao longo da conversa vamos percebendo que os bailarinos estão sempre no centro das suas decisões - Carlos Prado também o foi, nesta companhia. Há 20 anos que trabalha fora de Portugal, mas a criação não é a sua meta: "A minha carreira nunca foi dirigida à coreografia. Gosto do trabalho técnico em estúdio, de poder acompanhar os bailarinos a chegarem ao seu melhor".
O elenco, assim como o programa em mãos, foram deixados pela antecessora, Sofia Campos, mas refere que escolheria o mesmo. "Estou muito feliz com o elenco. No ano passado entraram oito novos bailarinos, a companhia é muito grande, e um dos motivos que me fizeram aceitar foi querer olhar com atenção para esta equipa".
calendário mais ágil
O potencial artístico do coletivo deverá ser revelado em todo o esplendor em breve: "Vou utilizar toda a companhia". Os bailarinos mais velhos não terão apenas papéis de carácter [papéis de mímica, que não exigem grande virtuosismo mas uma presença marcante]. "São pessoas com uma experiência enorme e seria redutor estar a utilizá-los exclusivamente no grande repertório do séc. XIX quando estamos no séc. XXI". Ainda assim, admite ser um processo que merece reflexão para encontrar os projetos certos.
Digressões mais alargadas é outra novidade que Carlos Prado gostaria de implementar. "A CNB produz vários programas durante uma temporada e esse formato não é compatível com as necessidades da companhia. É tempo valioso que se perde para criar e montar outro programa. Gostaria de realizar digressões mais extensas, mas que não seja dançar um dia numa cidade e voltar para dormir em Lisboa".
Esta agilização de calendário poderá entrar em vigor na próxima temporada, onde também estão inscritos dois compromissos deixados por Sofia Campos: a passagem pelo Théatre de la Ville em Paris e pela Maison de la Danse em Lyon.
Na passagem de testemunho também seguiu o programa do período do Natal, que traz "Alice no país das maravilhas", uma coreografia de Howard Quintero baseada na obra literária homónima de Lewis Carroll, com música de Tchaikovsky interpretada pela Orquestra Sinfónica Portuguesa.
os essenciais e o novo
As temporadas são normalmente desenhadas com três anos de avanço. "Estou numa corrida contra o tempo", conta o diretor. "Neste momento o que pretendo é desenhar o máximo para o futuro".
Dos seus planos constam bailados de Miguel Ramalho, coreógrafo emergente e bailarino da CNB, e uma encomenda para o centenário de José Saramago com uma coreografia de Olga Roriz. Apesar de começar pelos portugueses, que considera "essenciais", Carlos Prado também trará repertório de coreógrafos internacionais, como "Fall", de Sidi Larbi Cherkaoui. "É importante dar a conhecer ao público novas linguagens", remata. Em abril, a CNB retomará "La sylphide", de Fillipo Taglioni.
COLABORAÇÕES
Articulação entre estruturas do OPART
Carlos Prado pretende também colaborar mais amiúde com as estruturas que fazem parte do OPART (Organismo de Produção Artística). Para tal, no Natal de 2022, a CNB irá apresentar o bailado "Giselle" no Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa, "um dos mais bonitos da Europa e do Mundo". Apesar de o Teatro Camões continuar a ser a sede da companhia. Quanto aos meios financeiros ao dispor da CNB, Prado acha que "o orçamento é estável. Sabia qual era o "budget" e aceitei-o. Tenho de envidar esforços para ser suficiente. Mas, claro, se subisse era ótimo".