Primeiro dia do 8.º Sol da Caparica terminou em festa. MC Pedrinho, Mariza e Matias Damásio seguem-se no cardápio.
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No lançamento da 8.ª edição do Sol da Caparica, a noite terminou em dança, axé, forró, Carnaval. Um dos nomes mais esperados do cartaz deste ano, Léo Santana, não deixou os créditos de “gigante” por mãos alheias e pôs os muitos milhares de presentes a saltar, dançar e cantar – num dia que teve no rap e hip hip outros momentos altos.
Léo Santana, um dos rostos maiores na atualidade do som axé– tal como a também baiana Ivete Sangalo – mudou desde os Parangolé e da música "Rebolation". Foi este tema-fenómeno no Brasil que, tal como tantas vezes acontece com a música vinda de terras de Vera Cruz também se tornou viral por cá, o levou ao primeiro contacto musical com muitos portugueses.
Hoje, Santana é uma estrela, embaixador do género musical que nasceu inspirado precisamente no Carnaval de Salvador. No axé, como no pagode que obviamente também abraça (a diferença está no ritmo e no baixo, já explicou) vivem muitos géneros, do merengue ao samba-reggae, do forró, a sons latinos ou africanos. Há dança e muita alegria- e sempre o músico o lembrou, durante o concerto na Caparica.
Marcado para as 23.40 horas, o espetáculo do baiano começou com um ligeiro atraso, já perto da meia-noite. “Léo, Léo” gritava o público nos minutos de antecipação, entoando alguns temas para o chamar. Léo respondeu, com uma entrada forte: pirotecnia, dançarinos de lantejoulas em palco, uma enorme banda, tudo e tudo: festa pronta.
Começa a pedir logo mais: mais festa, mãos em cima, todos a dançar, energia. Entra em modo Dono da Zorra Toda (na já comum versão ‘porra toda’), como o primeiro tema que canta. “Tem gente dançando, tem gente cantando, Tô vendo meu povo feliz”, diz na letra.
O espetáculo segue assim, em ritmo rápido, a lembrar inevitavelmente os da conterrânea-furacão Sangalo: sempre em carnaval, sempre a pedir mais, comunicar, instruir o público. “Preciso energia lá em cima até ao último segundo do show”. “Abraça quem veio com você. Abraça a vida”, diz ainda na primeira música.
Quando começa “Contatinho”, tema com Anitta (que aparece num ecrã), já se percebe a dimensão do fenómeno Léo Santana: dificilmente haverá no público quem não cante ou dance. “Imaginem que estamos no Carnava de Salvador da Bahia” pede o músico, agradecendo a “cada uma” das pessoas do concerto. Em modo pagode, pede aos milhares presentes para dançar para um lado e o outro, antes de “Deboche”.
Tempo para uma canção muito especial, na qual diz precisar de ajuda para homenagear “uma das maiores de todos os tempos”, Marília Mendonça, de quem canta “Apaixonadinha” e a quem dedica um sentido discurso. Num tom totalmente diferente, “Solinho da Rabeta” e mais uma declaração: “portugueses, eu amo vocês” diz antes de “Santinha” e a inevitável passagem por “Rebolation”.
No Parque Urbano da Caparica, houve ainda tempo para “Invocada” com Ludmilla; e para o #DesafioPosturadoECalmo em que vários membros do público sobem ao palco para cantar e dançar (incluindo a parte “vai no chão”) a popular música com o mesmo nome. Desta feita, a representação incluiu uma grávida, que pedira com um cartaz para ser “a primeira grávida” do desafio. Final de concerto com “Zona de Perigo”, que acabou de se tornar Disco de Platina em Portugal, com muitas críticas dos fãs ao som.
Rap dos dois lados do oceano
Antes, passaram pelo palco dois grupos de rap e hip hop vindos de lados opostos do oceano: primeiro, do Rio de Janeiro os Poesia Acústica, coletivo de enorme sucesso nas plataformas digitais que começou a reunir o primeiro grande aglomerado da noite, perante um despique de rap entre vários vocalistas em cena.
Depois, um dos nomes mais fortes e conceituados no hip-hop português atual. Dillaz, ou André Chapelas, rapper de 32 anos, encheu e comandou o palco.
No ativo já há mais de dez anos, ainda que com álbuns de estúdio mais recentes, o rapper passou por “Clima”, por “1100 Cegonhas”, “Não Sejas Agressiva” ou “Oitavo Céu” e, claro, “Mo Boy”, sempre com apoio do público e sempre a salientar cada palavra que compõe a poesia falada do rap. “Regra número um: Tenta expandir a vista; Faz pela tua conquista; O protagonista és tu” canta a dado ponto, pedindo para ver os protagonistas presentes no público e dizendo aos presentes para não se esquecerem que os protagonistas são eles. “Regra número dois: Não deixes para outra hora; Tu tenta fazer agora; Para repetir depois”.
Pôr do Sol com Deslandes e Gonzo
Antes, Carolina Deslandes inaugurou o palco principal do recinto relvado e cheio de maresia doo Parque Urbano da Caparica. 19 horas em ponto e entrou em cena com “Vai Lá”, tema do novo “Caos”, já com os primeiros coros entusiastas do público a ouvirem-se no refrão. “Caos”, editado no início do ano e que terá seguidor em outubro com “Calma”, é um álbum “honesto, autêntico e raivoso”, disse a aquando do lançamento. Honesta é também Carolina que, neste regresso aos palcos após uma tragédia que envolveu parte da sua equipa, não se cansa de conversar com o público no entardecer da Caparica.
“Eu costumo dizer que os próximos 50 minutos vão ser nossos e a nossa energia aqui é igual à aí em baixo”, disse logo na entrada, explicando que neste dia, particularmente, iria “entregar tudo”, esperando o mesmo de volta. “Se música e a arte servem para alguma coisa, é para que nunca estejamos sozinhos”, destacou, antes de atacar “Não me Importo”, com uma passagem por “Ready or Not”, dos Fugees.
Seguiu-se, no alinhamento, “Paz”, o primeiro single de “Caos” com a artista a confessar novamente “não saber” como a iria conseguir cantar. Consegue, com voz mais forte e sentida: “sempre encontraste a tal paz que procuravas” entoa no final; para depois regressar a 2018 e a “Casa”, o seu "álbum mais feliz”, com “Avião de Papel”.
A “Adeus Amor Adeus”, segue-se “a canção que mudou a minha vida”, frisa Carolina, e que lembra que “o mais importante é o amor”, em qualquer forma que se apresente, como salienta. E pede: “digam mais vezes que gostam uns dos outros”, antes de entrar n’”A Vida Toda”, que a leva a cantar junto do público da frente.
Tempo ainda para “Por um Triz”, que levou ao Festival da Canção; e, novamente do disco “Caos”, “Precipícios” e “Saia da Carolina”, aqui apresentada com um discurso contra a narrativa das mulheres “com medo”, ou que servem “para cozinhar”. “Cuidado com a Carolina que vem de punho cerrado”, canta a Carolina, de punho cerrado. Para a despedida, o tema criado com Agir, “Mountains”.
Depois de Carolina, Paulo: e já um pouco longe vão os tempos de Paulo Gonzo, no início dos anos 80, a estrear-se em bandas de blues como o Go Graal Blues Band. Aos 66 anos e com mais de 45 de carreira, o cantor lisboeta de voz rouca, ou arranhada, e que este ano volta a correr o país na estrada, mostrou na Caparica estar em forma.
“Fico Até Adormeceres” deu o pontapé de saída do concerto, onde, durante cerca de uma hora, percorreu alguns dos maiores êxitos da carreira. Como “Leve Beijo Triste”, que o entusiasma logo a agradecer ao público. “Obrigado por terem vindo, obrigado pela generosidade”, frisa: um gentleman. “Sei-te de cor”, entoado em coro – mesmo pelas gerações mais novas, ponto alto, tal como “Jardins Proibidos” e “Ser Suspeito”, com uma inevitável passagem ainda pelos blues e pela harmónica.
Até domingo, são cinco os palcos para explorar na Caparica, com as praias da Costa mesmo ali ao lado. José Cid, MC Pedrinho e Wet Bed Gang, esta sexta-feira; João Pedro Pais, Mariza e Nininho Vaz Maia no sábado, 19 de agosto; e Excesso, Ivandro, Matias Damásio e Pedro Mafama no domingo, são outros dos artistas em destaque no cartaz.
Durante o festival, os visitantes podem contar, além do palco principal, com o LS&Republicano, dedicado ao pagode, sertanejo e funk; um outro palco de comédia e dança, com curadoria de Jel e Jazzy Dance Studios; sons urbanos e africanos no Palco Kavi Music; e uma Vila do Vinho para conhecer sabores da região, uma estreia nesta 8ª edição. No domingo há ainda uma manhã dedicada às crianças, com atividades variadas.