Da plateia outrora composta muitos foram os rostos que já desapareceram de cena: de Ângelo Granja, jornalista e escritor de teatro, a José Neves, fundador da Rádio Festival, passando por Raul Solnado, todos foram "grandes entusiastas" da Casa do Artista do Norte, mas não sobreviveram para a ver concretizada.
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A AMAR - Associação Mutualista dos Artistas foi criada em 2003 com o propósito de construir no Norte uma estrutura semelhante à que, em 1999, Solnado, Armando Cortez e outros fundaram em Lisboa.
Passados 17 anos, a estrutura que quer "várias gerações de artistas" da região a partilharem "o tempo e o saber", em torno de valências residenciais e culturais, tem assegurado um terreno em Leça da Palmeira e um projeto de arquitetura, mas falta o financiamento. Por duas vezes estiveram perto de "dar o passo decisivo", mas sem sucesso. Agora é o PCP que se compromete a levar o assunto ao Parlamento. "Têm sido anos a pregar no deserto", desabafa ao JN Rui Reininho, da direção da AMAR, que tem "o sonho" de ver o projeto concretizado.
Bazuca e "fisguita"
No conjunto das três valências que integra, o projeto rondará os 12,5 milhões de euros. "Com estas bazucas de que se fala, se conseguíssemos uma fisguita já era qualquer coisa", ironiza Reininho. "É uma classe que necessita mesmo. Há muito desânimo. Creio que mesmo as gerações mais novas estão a dar-se conta de quão difícil é esta vidinha".
O ator e encenador Júlio Cardoso, que aos 81 anos continua a liderar a causa, recorda que "no início houve um grande entusiasmo" com a Casa do Artista do Norte.
Foram bem recebidos em vários municípios do Grande Porto, mas foi em Matosinhos que encontraram o terreno e um autarca decidido a acolher o projeto - Guilherme Pinto, entretanto também desaparecido. Em 2009, uma candidatura conjunta a fundos europeus não foi bem-sucedida, por problemas burocráticos. Segue-se um longo hiato até 2018, quando o assunto entra na agenda do ministro da Solidariedade Social, José Vieira da Silva. A AMAR é chamada, o projeto é revisto, mas há eleições em 2019 e Vieira da Silva deixa o Governo. A Casa do Artista do Norte volta para a gaveta.
Há duas semanas, foi o PCP quem pediu uma reunião à associação. "Nós vamos intervir sobre este assunto [no Parlamento]", garante a deputada Diana Ferreira ao JN. Como, ainda não está decidido.
60 utentes e atividade cultural
Concebido pelo arquiteto Manuel Correia Fernandes, o projeto contempla 15 mil metros quadrados divididos entre um clube residencial para 60 utentes - a infraestrutura maior (6 mil metros quadrados) -, um centro de dia e um auditório. Este último seria "o centro de uma atividade pedagógica e cultural, fazendo deste conjunto não um armazém de idosos, mas um espaço aberto à comunidade", explicou o arquiteto ao JN.