Setembro está a ser para a estrutura A Turma, do Porto, "infernal", como conta António Afonso Parra, um dos diretores. Se na semana passada a companhia esteve com "O Salto" no Teatro Carlos Alberto, esta semana passa pelo Teatro Rivoli com "Casa dos Pais", em cena esta sexta-feira e sábado.
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"Casa dos pais" conta a história de três irmãos desavindos, no momento que se segue ao funeral do pai. Montadas as três personagens "a irmã mais velha que se separou da família no final da adolescência (Carla Maciel), o irmão do meio, o mais bem sucedido (Albano Jerónimo) e o irmão mais novo (Luís Araújo), que arcou com a responsabilidade de tomar conta dos pais".
"A história escreveu-se quase por si só", como conta António Parra, que começa agora a aventurar-se também na dramaturgia . Uma contingência desta nova formação de A Turma, que tem agora apenas dois membros diretivos: Tiago Correia e António Afonso Parra.
Na génese do projeto "Casa dos pais" estava a dicotomia entre a linguagem do cinema e a linguagem do teatro, que resultam no cinema como um "espaço de projeção, onde idealizamos o que podia ter acontecido e o teatro como um espaço de memória onde recordamos o que aconteceu", diz ao JN.
Para tal, A Turma convidou o realizador Tiago Guedes, mas montada a história percebeu-se que o artefacto daria apenas para montar um castelo de lógicas familiares, onde muitas vezes é mais importante o que não se diz do que as palavras que são efetivamente ditas. Esse silêncio em cinema, tem um efeito lupa que o teatro não consegue amplificar.
Nesta violência familiar, na paz podre é possível obter um efeito de projeção. Como quando um dos irmãos se questiona o porquê de alguém gastar dinheiro numa coroa de flores, para deixar uma natureza morta, na porta de outro alguém. Nesses questionamentos e nessa parafernália de emoções recusam-se a "fazer terapia, porque essa é cara e as metáforas são grátis".
Não sendo um texto fácil, para que o público se divirta consegue levantar uma série de questões, sem dar as resoluções. A cenografia, de Ana Gormicho, está muito bem conseguida, articulando perfeitamente as elipses temporais da narrativa, e a estética cinematográfica e teatral.
Para ver esta sexta-feira e sábado, às 19.30 horas, no Teatro Rivoli, no Porto.