De 23 de abril a 4 de maio, o concelho é epicentro do canto operático. Um concurso que se tornou, em dois anos, num dos mais prestigiados do mundo, volta com novidades.
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Depois do sucesso da estreia em 2024, regressa o Cascais Ópera. A partir de quarta-feira e até dia 4 de maio, a 2ª edição do Concurso Internacional de Canto volta a transformar o concelho da Grande Lisboa no epicentro mundial do canto operático. 43 cantores, de 18 nacionalidades, disputam um lugar entre os melhores do mundo, com provas ao vivo, masterclasses e concertos imperdíveis.
Este ano, o período de inscrições terminou com número recorde de inscritos: 340 candidatos de 49 países tentaram um lugar na fase final do Cascais Ópera, que começa agora. Durante quase duas semanas, os candidatos selecionados são convidados para as etapas presenciais do concurso, onde mostram o seu trabalho. Durante este período, realizar-se-ão também masterclasses e, uma novidade, um concerto de semifinalistas no Palácio da Cidadela de Cascais, sempre com entrada livre. Esta fase ocorre em espaços emblemáticos como o Centro Cultural de Cascais ou a Casa das Histórias Paula Rego.
A competição culmina numa Grande Final ao vivo, a 4 de maio, no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian – com venda de bilhetes – onde oito finalistas interpretam icónicas árias de ópera, acompanhados pela Orquestra Sinfónica Portuguesa sob batuta do Maestro Antonio Pirolli. Na meta, há prémios pecuniários mas sobretudo uma oportunidade que pode mudar carreiras, adianta ao JN o pianista e diretor artístico Adriano Jordão, que, com Alexandra Maurício, iniciou o projeto há dois anos. “É sobretudo a oportunidade. O concurso tem muito o lado de aprendizagem, de montra e um fator de multiplicação e de estímulo aos cantores”, frisam ambos, destacando o prestígio imediato da competição – muito devido a um painel de reputados jurados. E dando o exemplo de uma concorrente portuguesa que, no ano passado, não foi premiada, “mas um dos membros do júri era o diretor da Ópera de Viena; e ela hoje está lá no programa”, frisa.
Com o prestigio do concurso veio um disparar de candidaturas, admitem Adriano Jordão e Alexandra Maurício ao JN. “Temos nas inscrições, este ano, concorrentes já premiados, laureados, dos melhores concursos internacionais mundiais, como é o caso da Operália do Placido Domingo. Na pré-seleção, que é um trabalho insano do júri, temos de deixar margem para possíveis desistências de concorrentes que, em si, nos honram: candidatos que entretanto foram contratados para a Ópera de Zurique ou de Paris e por isso não podem vir”, referem os responsáveis, destacando ainda a diversidade de longitudes.
Em 2025, entre 340 candidatos da Namíbia, França, Espanha, Austrália, Nova Zelândia, Suécia, Japão, Rússia, Turquia, Brasil, Chile e Ucrânia, “66 eram da Coreia do Sul e 44 da China”, exemplificam.
Nascido de um feliz acaso
Segundo recordam Adriano Jordão e Alexandra Maurício ao JN, a ideia do evento partiu do barítono russo a residir em Cascais, Sergei Leiferkus. “No fundo, nasceu de um acaso: de um encontro onde estávamos eu e a Alexandra, em casa do Serguei, que tinha chegado de um concurso internacional, penso que na Noruega, e que comentava o tempo maravilhoso que temos aqui em Portugal, um clima fantástico. E como lá estava tudo tão escuro, a chover, e aqui é que era bom fazer o concurso”.
Sergei, que decidira retirar-se em Portugal, com discrição, há uns anos, ficou a residir em Cascais e costumava comentar como naquela zona havia turismo, cultura, sol, mas não havia ópera, um concurso de canto. Para Adriano Jordão, que já dirigira eventos como o Festival Internacional de Música de Macau, o instinto foi de imediato o de aceitar.
“Pensámos logo ‘porquê não’, e fomos ter com o Turismo de Cascais, que percebeu imediatamente o potencial da ideia, bem como a Fundação D. Luís I”, referem.
Como resultado da primeira edição, os intervenientes esperavam um festival de qualidade, mas “nunca imaginavam”, confessam, o sucesso atingido. “Assim que acabou a primeira edição, começamos a tratar da segunda e pensámos se não teríamos tido sorte de principiante”, refere Alexandra. “Até que começaram a chover candidaturas, de qualidade cada vez mais elevada, de todo o mundo, e tivemos de duplicar a margem”.
Além de posicionar Cascais e Portugal como referência no circuito internacional da ópera, o Cascais Ópera reforça também a importância do talento português num cenário muito competitivo, sendo a presença de 15 cantores portugueses entre os candidatos prova da vitalidade e o potencial da nova geração de artistas nacionais que procuram afirmar-se no panorama global. “Passou-nos também pela cabeça que tivéssemos quase esgotado os candidatos portugueses na primeira edição, mas nesta recebemos o mesmo número”, refere Alexandra, avançando explicações: “o nível de ensino tem vindo a crescer. Os concorrentes portugueses já fazem carreira internacional, há uma grande projeção dos cantores portugueses nacional e internacionalmente. E todos os concursos estimulam a que o canto comece a ser um objetivo e que a ópera progrida, ou seja este concurso também tem este fator de multiplicação e de estímulo aos cantores nacionais”, refere Maurício.
A grande final
O vencedor da primeira edição do Cascais Ópera foi o sul coreano Hae Kang, que recebeu o Grand Prix Égide, patrocinado pela Associação Égide, onde além de um prémio no valor de 10.000€ obteve ainda um contrato com o Teatro Nacional de São Carlos.
O concurso conta com um júri de renome, presidido pelo barítono Sergei Leiferkus, Antonio Pirolli (maestro titular da Orquestra Sinfónica Portuguesa), Eline de Kat (Coordenadora Artística da Ópera de Monte-Carlo), Ivan van Kalmthout (Executivo Sénior de Ópera), a soprano Juliane Banse, a mezzo-soprano Jennifer Larmore e Pål Moe (Glyndebourne).
As provas presenciais e as masterclasses, que terão lugar em espaços icónicos do Bairro dos Museus como o Centro Cultural de Cascais, a Casa das Histórias Paula Rego e o Museu Condes de Castro Guimarães, são todas de entrada gratuita, sujeita à lotação da sala, proporcionando ao público uma oportunidade de acompanhar a evolução dos concorrentes.
Depois, uma das novidades deste ano, é o Concerto de Semifinalistas, que se realiza a 30 de abril no Palácio da Cidadela de Cascais – de entrada gratuita, mediante inscrição –, uma nova oportunidade para que os cantores que não passaram à final sejam ouvidos pelo público e pelo júri num contexto de espetáculo. Para assistir ao Concerto de Semifinalistas, os bilhetes devem ser reservados através do e-mail publicrelations@cascaisopera.com e levantados no Centro Cultural de Cascais no dia 30 de abril, entre as 13 horas e as 17 horas.
O concurso culmina na Final, a 4 de maio, na Fundação Calouste Gulbenkian, com bilhetes à venda na Ticketline, Em jogo estão novamente mais de 40 mil euros em prémios, distribuídos por nove categorias, incluindo o Grand Prix Égide, no valor de 10 mil euros, que garante ao vencedor um contrato com o Teatro Nacional de São Carlos. Além dos prémios monetários, os vencedores poderão assinar contratos com teatros e festivais de ópera internacionais.
Chamar mais público à Ópera
Segundo os responsáveis do Cascais Ópera, esta é uma arte viva e que se recomenda. E adiantam: “a ópera é o espetáculo mais completo que pode existir. Porque mistura a música, o teatro, a dança. Nas masterclasses do concurso, há este ano de acting também, porque é importantíssimo para os cantores”, dizem, destacando ainda a vitalidade da nova geração.
“O setor está vivo e bem vivo, e vê-se, porque neste concurso são miúdos, entre os 18 e os 32 anos. São jovens, é a nova geração”, frisam. E há também o público, que assiste. “No ano passado, tivemos dias com muitas pessoas nas provas ao vivo. Tivemos até turistas que ouviram falar que estava a acontecer qualquer coisa ali: chegaram rigorosamente com as malas de viagem ao Centro Cultural de Cascais, pediram se as podiam guardar. Entraram, assistiram a uma ou duas provas. As pessoas têm muita curiosidade. E esperamos estar também a chamar novos públicos e a disseminar a ópera para mais pessoas”, concluem os responsáveis.