Intérprete espanhola entoa o clássico de José Afonso na derradeira temporada de "La Casa de Papel".
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Cecilia Krull é a voz que canta em "La casa de papel". A música de abertura, "My life is going on", já foi ouvida mais de 97 milhões de vezes. Agora, Krull volta para entoar "Grândola, vila morena".
A oportunidade de cantar o tema de José Afonso veio do diretor, Álex Pina. "Comecei imediatamente a ouvir a versão original e a recriação de Amália Rodrigues. Estas foram as minhas primeiras referências. Eu já a conhecia, mas agora tinha o trabalho de me focar na letra e na pronúncia." As palavras mais desafiantes? "Fraternidade" e "esquina".
"Gravámos uma primeira versão mas depois pensámos numa voz masculina e foi aí que surgiu o Pablo Alborán. Ele aceitou de imediato." Crente no destino, pensa que esta colaboração tem as suas raízes há três anos, quando Cecilia e Pablo se conheceram no Porto.
Questionada sobre o porquê da escolha desta canção, diz não saber a resposta. "Acho que Álex Pina gostou e sentiu alguma coisa pela música." Conta que foi como uma prenda: "Tenho uma história fantástica com Portugal e foi com todo o amor que a gravei. Chegamos mesmo a falar com um filho de Zeca Afonso antes de gravar. Tentámos fazer tudo com respeito. O filho estava reticente, por ser tão importante para o pai, mas depois de mostrarem a ideia e o resultado final disse que sim".
Num Mundo em que os movimentos fascistas parecem crescer, Cecilia Krull refere não ter medo de ser mal interpretada nem dos perigos de romantizar a canção, respondendo com um verso de "My life is going on" ("I don"t care at all"). "Ter vergonha ou estar calado é o que há de mais perigoso. Não podemos expressar-nos nem sentirmo-nos livres - isso é que é perigoso."
álbum a caminho
Emocionada com o sucesso, admite nunca ter esperado a reação dos fãs, mesmo que já tivesse passado por algo parecido com a música de abertura. Graças também à cena em que Grândola é empregue, acha que "a audiência ficou chocada, não esperavam ouvi-la num momento tão importante e emocional". No total, as duas versões que Krull gravou (uma a solo, outra com Alborán) rondam as 900 mil audições no Spotify.
Sem confirmar se irá aparecer nos episódios finais de "La casa de papel", que estreiam a 3 de dezembro, assegura que este foi o final da série. A sua carreira, pelo contrário, continuará. "Abriu-me novas portas, foi uma oportunidade para mim. Mas nunca vou parar de fazer o que gosto." Atualmente, a cantora prepara um álbum, a lançar antes do final do ano. Com um sorriso, diz ter mais surpresas a caminho e que vê uma oportunidade para se lançar noutros países.
Na perspetiva de futuras parcerias com Portugal, refere que está apaixonada pelos irmãos Salvador e Luísa Sobral. "Os vossos músicos são brilhantes e ficaria mais do que feliz em voltar a Portugal, não só pela comida, mas para poder cantar."
Cecilia Krull tem como base o jazz, admitindo explorar diferentes estilos e influências no disco vindouro. Com todas as músicas já gravadas, o álbum terá toques de eletrónica analógica e letras profundas e emocionais. Ao JN, disse que se pode contar em breve com um novo single, "Out in style".
Carreira
Canções para televisão e cinema
Cecilia Krull nasceu a 29 de junho de 1986 rodeada de música: o pai é pianista, a mãe cantora. Começou aos sete anos a trabalhar para a Disney. A sua discografia conta com temas como "Agnus dei" (para a série "Vis a Vis"), "La verdad" (para "El accidente") e "Something"s triggered" e "All my fears" para os filmes "Tres metros sobre el cielo" e "Fuga de cerebros 2", respetivamente. "Hard" (de 2019) e "Losing my mind" (2020) são outros singles recentes. Fez sucesso com o single "My life is going on" e repete com "Grândola, vila morena".