O Coliseu Porto Ageas assinalou o centenário da estreia de "Amor de perdição", o filme de Georges Pallu, este domingo. O filme-concerto teve como ponto de partida a banda sonora original composta por Armando Leça, reconstruída e adaptada pelo pianista e compositor Nicholas McNair após um trabalho de transcrição e estudo crítico levado a cabo pelos musicólogos Manuel Deniz Silva e Bárbara Carvalho, da Nova Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH).
Corpo do artigo
A partitura foi interpretada ao vivo por Nicholas McNair e os solistas da Orquestra Metropolitana de Lisboa, dirigidos pelo maestro Cesário Costa. A partir do romance homónimo de Camilo Castelo Branco, "Amor de perdição" estreou-se em 1921. É a mais famosa adaptação literária da Invicta Film e um dos trabalhos de maior fôlego de Georges Pallu.
A famosa sequência do namoro à janela, retomada pela versão de Manoel de Oliveira, é uma das melhores soluções narrativas que se pode encontrar nos filmes do realizador francês. Os vários exteriores do filme revisitam os principais cenários do romance: as ruas estreitas de Viseu, a Universidade de Coimbra e a cidade do Porto.
A reconstituição e interpretação pública ao vivo de "Amor de perdição", acompanhada pela partitura de Armando Leça, resultou de uma parceria institucional entre a Cinemateca, a Orquestra Metropolitana de Lisboa, a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, o Coliseu Porto Ageas e a Ágora - Cultura e Desporto E.M..
A obra de Camilo Castelo Branco volta a estar em destaque esta terça-feira, 16 de novembro. O Centro de Documentação do Teatro Nacional São João, no Porto, promove mais uma sessão das Leituras no Mosteiro - atividade coordenada por Nuno M Cardoso e Paula Braga -, desta vez dedicada a uma forma literária cada vez menos tida em consideração: os libretos de ópera. A atividade irá focar-se também em "Amor de perdição", que António S. Ribeiro escreveu a partir do romance homónimo. A sessão está agendada para as 19 horas no Mosteiro de São Bento da Vitória, e tem entrada gratuita.
Autodenominada de "drama musical para cantores, atores e músicos", a ópera teve uma receção também ela "apaixonada" aquando da primeira apresentação na Europália 91, com encenação de Ricardo Pais. Entre os comentários feitos na época, destaque para o do escritor Eduardo Prado Coelho, que deu nota de algumas das disrupções técnicas e estéticas, como o "deslizar da ópera para o teatro, a duplicação atores-cantores", sublinhando assim a performatividade das palavras ditas e cantadas.
Também a composição musical, a cargo de António Emiliano, foi elogiada pelo musicólogo Rui Vieira Nery, não só pela "sensação de profundo impacto emocional" mas também pela "maneira modelar como ela conseguiu apropriar-se do libreto, transcendê-lo e transformar-se a si própria em "dramma per musica".