Banda de John Lydon apresenta em Portugal - esta terça-feira no Hard Clube no Porto e na quarta no Lisboa ao Vivo - o recente disco "End of the world".
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Pouco haverá de consensual acerca dos Public Image Ltd (PIL), banda liderada pelo ainda mais divisivo John Lydon, ex-Johnny Rotten, vocalista dos Sex Pistols. Preferiram considerar-se uma “empresa de comunicação” quando começaram, em vez de uma banda. Tiveram uma história tão conturbada como a dos autores de “Never mind the bollocks”, apesar de menos concentrada e explosiva. Nunca agradaram a todos. A cada álbum mudaram de direção, mesmo dentro de cada álbum multiplicaram caminhos, frustrando qualquer expectativa do potencial fã e inviabilizando uma catalogação definitiva. Talvez o consenso esteja aí: nunca se comprometeram, desbravaram sempre por onde quiseram. Apresentam esta terça-feira à noite o seu 11.º álbum de estúdio, “End of the world”, no Hard Club do Porto e no dia seguinte no Lisboa ao Vivo.
“Alguma vez se sentiram enganados?”, seria a última frase de Lydon à frente dos Sex Pistols, no palco do Winterland Ballroom, em São Francisco, a 14 de Janeiro de 1978. Era o fim da história da banda que esteve no centro de um fenómeno sociológico: o movimento punk inglês. Para lamber as feridas, o ex-Rotten visitou a Jamaica acompanhado pelo patrão da Virgin Records, Richard Branson, numa suposta missão de “scouting” por músicos locais. A influência do dub estará bem vincada no tema “Fodderstumpf”, do primeiro álbum, e em várias canções posteriores. Regressado a Londres, John começou a recrutar membros para um novo projeto.
Jah Wobble, um velho amigo de Lydon, seria o baixista. A guitarra foi entregue a um dos membros fundadores dos The Clash, Keith Levene. E na bateria sentou-se um estudante canadiano recém-chegado ao Reino Unido, Jim Walker. Ainda em 1978, é lançado o primeiro single da banda que retirou o nome do livro de Muriel Spark “The public image” (1968): tinha título homónimo e foi visto como ajuste de contas com Malcolm McLaren, o controverso ‘manager’ dos Pistols. No dia de Natal desse ano é editado “First Issue”, primeiro longa duração dos PIL. A capa era um ‘statement’: o anterior rapaz de cabelo espetado e roupa rasgada apresentava-se agora de fato e cabelo sedoso. Não deixou de ser um ato punk dirigido ao movimento punk.
Numa célebre entrevista, já em 1980, ao apresentador de televisão norte-americano Tom Snyder, Lydon explicou, de forma tortuosa e sarcástica, o que significavam musicalmente os PIL. “Não temos nada a ver com o rock ‘n’ roll, que se tornou uma praga, uma doença, algo próximo da religião. Não está a conseguir mudar nada. Somos uma empresa, onde também se faz música.”
O experimentalismo e o cruzamento de géneros estiveram presentes desde o início, com os PIL a engendrar um caldeirão de krautrock, world music e eletrónica, às vezes indecifrável, outras a apostar no retorno comercial, com condimentos mais pop. Definiram-nos, esforçadamente, como pós-punk, mas Lydon talvez preferisse “anti-punk” ou “anti-rock”. As peripécias foram-se sucedendo. Wobble foi expulso da banda por utilizar músicas dos PIL no seu álbum a solo. Um concerto no Ritz Club, de Nova Iorque, terminou com o público a lançar cadeiras e garrafas para o palco, porque a banda decidira atuar por detrás de uma tela, mantendo-se oculta. A formação dos PIL foi mudando; apenas John se manteve como membro constante. Em 1992 terminava o primeiro capítulo da história.
Segundo Lydon, foi a publicidade a uma manteiga que financiou o renascimento do projeto, já em 2009. O novo alinhamento incluía Lu Edmonds, Bruce Smith e Scott Firth, quarteto que se manteve nos três álbuns entretanto lançados. O mais recente, “End of the world”, apresenta a veia cáustica e zangada do cantor, mas também um lugar de compaixão em “Hawaii”, tema dedicado à mulher de Lydon, Nora Forster, falecida em abril. É um “hit and miss” (certeiro e ao lado), como escreveu um crítico inglês. Frase que resume a história musical dos PIL