Ator e humorista César Mourão estreia-se como cantor, lança disco de originais e dá concertos. Este sábado atua em Lisboa e no dia 28 no Porto.
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"Talvez não seja nada", ou talvez seja o início de mais uma prolífera e bem sucedida carreira. César Mourão, 44 anos, decidiu seguir a paixão antiga pela música, transformou-a em disco e hoje vai atuar com uma banda e convidados especiais, no Sagres Campo Pequeno, em Lisboa, seguindo depois, no dia 28 a Super Bock Arena, no Porto.
Com temas originais e histórias escritas e contadas pelo próprio, os concertos vão ter a participação de nomes como a madeirense Juliana Anjo ou os amigos de longa data Miguel Araújo (no Porto) e António Zambujo (em Lisboa) - os mesmos que o ajudaram a dar o salto para este novo desafio.
Editado a 6 de abril, o disco chama-se assim mesmo, "Talvez não seja nada", tal como o segundo single, uma visão divertida sobre as agruras do quotidiano. Mas, explica Mourão ao JN, não é só de humor que é feita esta nova fase; o humor é "apenas" o filtro que põe na vida.
Porquê esta viragem súbita? Foi pelo desafio ou é mesmo amor à música?
Eu não sei se tenho amor à música, como se mede. Sei que gosto muito de música, desde muito novo. Sempre ouvi música em casa e sempre tive uma ligação muito forte. Aliás, eu quando era miúdo, queria mais ser músico do que propriamente ser um ator.
Quais as suas primeiras memórias ou ídolos? Era daqueles miúdos que cantava pela casa fora?
Cantava constantemente e tocava. Aprendi guitarra sozinho e piano, o pouco que sei, também sozinho. E sempre ouvi muita música. Só que de quem eu gostava eu tinha vergonha de dizer na escola. Todos os meus amigos gostavam de Nirvana, Megadeth, Metallica e eu não. Eu gostava era de Rui Veloso, Sérgio Godinho, Chico Buarque. Então fingia gostar de Metallica, sabia o "Nothing else matters", andava com t-shirts, mas ia para casa ouvir Vitorino e Caetano Veloso.
E hoje mantém esses ídolos ou há novos?
Mantenho estes e tenho outros novos. A música portuguesa também começou a ganhar outra dimensão. Quando eu fui estudar para o Brasil, em 1999, tive um choque cultural, porque em Portugal a música portuguesa era muito pouco ouvida. E no Brasil toda a gente, toda, miúdos novos, ouvia música brasileira. E nós não tínhamos esse hábito. Mas hoje já não é assim. Hoje já há um orgulho, mesmo dos miúdos, eu vejo pela minha filha que tem 14 anos, que ouve imensa música portuguesa. E adora.
Vários humoristas referem que a música e o humor são parecidos na métrica, no ritmo. Sente também essa ligação?
Sim, completamente. Não existe música, sem silêncio. Não é possível, senão era uma nota constante. E o humor é isso. O humor vive do timing, eu posso dar exatamente o mesmo texto a duas pessoas e o público vai-se rir em partes diferentes. É tudo do jogo com o silêncio.
Ao vivo, como vão ser os seus espetáculos, o que podemos esperar?
Há toda uma preocupação, que é a minha maior preocupação, com o rigor no seu todo. Desde o cenário à direção musical, aos músicos. Estamos a falar de cerca de 11 músicos em palco. Mais as participações especiais, mais um cenário de que eu gosto muito - não vou dizer o que é. Tem vídeo também, portanto, entra cinema, teatro... Os espetáculos têm toda uma preocupação cénica constante.
E os nervos, são mais ou os mesmos?
Eu acho que vão ser mais. Eu digo isto por brincadeira, sinto-me um bocadinho uma criança na piscina dos grandes. Não é que eu não saiba nadar, mas há aquela euforia de ser uma coisa que não dominamos por completo e, neste caso, não é a minha piscina. Portanto, os nervos prendem-se com isso. E há muita coisa para me preocupar. Não basta só preocupar-me comigo. Há muita coisa entre a banda, entre afinar, cantar, tocar.
Dizia há uns tempos que já mal parava. E agora?
Eu tenho para mim que fazer tantas coisas é uma fuga a eu não saber fazer nenhuma das coisas muito bem. Não é falsa modéstia, acho que talvez seja mesmo isso. A minha ânsia de querer fazer muita coisa, de ser muito versátil, já vem desde muito novo. Eu gostaria de ser alguém que tocasse vários instrumentos, digamos assim. E isso para mim é a definição de um artista. Acho que os artistas não se devem fechar em gavetas.