Este sábado ao fim da tarde serão revelados o Urso de Ouro e os restantes prémios do festival.
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Antecipando Cannes, em maio, e Veneza, em setembro, a Berlinale inicia o ciclo dos festivais de cinema mais importantes do mundo. Por isso, o Urso de Ouro de Berlim é um dos prémios mais ambicionados por qualquer realizador que passe pelo festival, e por todos aqueles que legitimamente ambicionam um dia serem selecionados.
A edição deste ano, já a 74ª, termina hoje ao fim da tarde, com o anúncio dos prémios oficiais. Como sempre, há uma grande incógnita em torno de quem poderão ser os premiados, até porque, ao longo dos dias que se seguiram à abertura oficial do festival, no passado dia 15, não houve nenhum título que conseguisse um consenso alargado entre os jornalistas e críticos de cinema creditados pelo festival.
Tomemos como barómetro o painel de oito jornalistas escolhidos pela prestigiada Screen International. Numa classificação de uma a quatro estrelas, apenas dois títulos conseguiram ultrapassar a média de três pontos. São eles “My Favorite Cake”, o terno conto de amor na terceira idade numa sociedade iraniana onde a mulher sofre de inúmeras restrições para conseguir manter uma vida sentimental e sexual livre, e o austríaco “The Devil’s Bath”, a tremenda evocação de uma situação real, ocorrida a meio do século XVIII, quando sobretudo mulheres em estado depressivo, em vez de se suicidarem, matavam crianças para serem executadas por decapitação, sendo que o seu sangue era depois vendido a uma multidão em êxtase.
Quando ainda faltavam classificar os três últimos filmes da competição, onde se encontrava o também potencial ganhador “Sons”, vindo da Dinamarca, sobre uma guarda prisional que vê chegar à prisão o homem que matou o seu filho, quererá isto dizer que estamos então na presença dos principais candidatos aos prémios?
Tudo depende afinal do gosto não dos jornalistas e críticos presentes em Berlim, mas dos sete membros do júri oficial que assistiram a todos os vinte filmes em competição. Sobretudo da presença sempre forte de quem o preside, neste caso a atriz, escritora e ativista Lupita Nyong’o. Nascida no México, de pais quenianos e conhecida pelo papel em “12 Anos Escravo” que lhe valeu o Óscar de melhor atriz secundária, Lupita já fez saber que tinha “fome” de filmes africanos.
Ora, há três na competição, o tunisino “Who Do I Belong To”, o mauritano “Black Tea” e o senegalês “Dahomey”. Dadas as debilidades dos dois primeiros, resta o filme de Mati Diop. Mas atribuir pelo segundo ano consecutivo o Urso de Ouro a um documentário, depois de “Sur l’Adamant”, não seria conceder um atestado de menoridade à ficção que se faz hoje em dia pelo mundo fora?
A esta lista de possíveis vencedores dos prémios principais juntaríamos “La Cocina”, “From Hilde, With Love” e “Dying”, sendo que este último, um drama familiar sobre a morte mas sobretudo sobre a vida, permitiria ao cinema alemão um Urso de Ouro que lhe foge há precisamente vinte anos, quando Fatih Akin surpreendeu Berlim e o mundo com o seu “Head On”.
Outro prémio sempre muito aguardado é o da interpretação. No singular, porque a equipa de Carlo Chatrian e Mariette Riessenbeek inovou, ao suprimir as categorias de interpretação masculina e feminina, atribuindo apenas um prémio independente do género.
Uma decisão que talvez tenha levado longe demais a questão da igualdade de género, que limita apenas a um prémio esta categoria onde há sempre muitos candidatos e candidatas e que se espera seja revista ou pelo menos pensada pela nova equipa que vai orientar o festival a partir da próxima edição. Assim, candidatos a este prémio poderão estar na seguinte lista: Lili Farhadpour, a protagonista de “My Favorite Cake”, Raúl Briones, o elétrico ator principal de “La Cocina”, Liv Lisa Fries, a germânica na pele do papel central de “From Hilde, With Love” ou Sidse Babett Knudsen, que se transfigurou completamente para se tornar a guarda prisional de “Sons”.
Criada em 2020, a seção competitiva Encounters tem como jurados este ano o argentino Lisandro Alonso, o canadiano Denis Côté e a italiana Tizza Covi, com a particularidade de serem todos realizadores. Foram eles quem apreciou nos últimos dias os quinze filmes escolhidos para esta seção e onde se encontrava o português “Mãos no Fogo”, de Margarida Gil. O mínimo que se pode dizer é que o belo filme da realizadora portuguesa tem tantas possibilidades como os restantes de vencer um dos três prémios em questão, melhor filme, melhor realizador e prémios especial do júri.
Seria notável para o cinema português ter dois prémios importantes em sucessivas edições da Berlinale, após “Mal Viver”, de João Canijo, vencer o Prémio do Júri internacional o ano passado. Para saber mais logo, aqui em Berlim.