Christopher Nolan, realizador de "Tenet", e o elenco do filme que estreia esta quarta-feira em Portugal falaram em exclusivo com o JN sobre esta superprodução.
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Não há hoje cinema original de Hollywood em maior escala do que os filmes do britânico Christopher Nolan. O facto de ter um estúdio de produção como a Warner&Bros disposto a investir um orçamento gigante para que realizasse uma obra original é um testemunho da influência crítica e comercial do realizador: 200 milhões de dólares é quanto custa fazer "Tenet" - o filme mais aguardado da temporada.
Depois de ter tido a estreia adiada três vezes (o realizador recusou qualquer alternativa à exibição em sala de cinema real), este épico de ação chega esta quarta-feira a Portugal, envolvendo o espectador no mundo da espionagem internacional numa missão que se desenrola para lá do tempo real.
Sempre com o objetivo de surpreender o público, com a magnitude de cada cena e com a complexidade do enredo, Christopher Nolan não teme classificar os seus filmes como escapistas.
No entanto, é evidente a ambição de fazer-nos marinar em questões filosóficas que nem sempre as vicissitudes do dia a dia permitem considerar. E reflete: "O cinema permite-nos questionar. Se não aqui, onde?"
rodagem em sete países
À boa maneira de Nolan, este é um filme críptico, que mantém o máximo de detalhes escondidos até aos momentos finais. A produção de um filme com esta dimensão requer experiência.
"Fico sempre nervosa antes de ler o guião", confessa Emma Thomas, colaboradora de longa data e esposa de Christopher Nolan. A produtora executiva esteve presente, juntamente com o realizador e o elenco, na conferência de imprensa em que o JN foi o único meio de comunicação português presente.
"Sempre que leio um guião do Christopher pela primeira vez, faço-o sem pensar que vou produzir o filme. Leio-o como qualquer pessoa o leria. Assim, fico próxima da sensibilidade da história e percebo melhor o porquê da necessidade de certas acrobacias técnicas", explica. "Em Tenet", filmámos em sete países. Conseguimos fechar uma autoestrada em Tallinn, na Estónia, e uma secção de um aeroporto em Oslo, na Noruega. Demorámos várias semanas a negociar, mas a verdade é que os países acabam sempre por perceber os benefícios e a visibilidade que um filmes destes pode trazer-lhes."
Nolan não tem problemas em atrair grandes celebridades para os projetos que faz. Em "Tenet, volta a reunir-se com alguns colaboradores de longa data, nomeadamente Michael Caine ("The Dark Knight") e Kenneth Brannagh ("Dunkirk"). Robert Pattinson, Elizabeth Debicki e John David Washington juntaram-se ao elenco principal e mostraram estar à altura dos desafios desta longa metragem.
"Cresci a ver os filmes de Christopher Nolan. Nunca pensei vir a ter a possibilidade de trabalhar com ele. Quando somos muito fãs de algo ou alguém, achamos que colaborar está para lá de um sonho. Ainda não acredito que concretizei este projeto", afirma Pattinson, que interpreta uma personagem secundária, mas muito complexa.
Depois de liderar o elenco de "Blackkklansman", o mais recente filme de Spike Lee, John David Washington (filho de Denzel Washinton), protagoniza "Tenet" e confessa ter, pela primeira vez, abordado uma personagem através da fisicalidade.
"Normalmente, começo a trabalhar uma personagem através da psicologia. Neste caso, o meu processo como ator iniciou-se com exercício físico", explicou. "Treinei vários dias com um oficial da marinha. Depois de cada sessão, tirava notas. Foi exaustivo, mas foi assim que melhor consegui chegar à psique do meu papel. O meu passado como jogador profissional de futebol americano, ajudou-me."
som sueco no filme
Curiosamente, nesta produção, a banda sonora original pertence ao sueco Ludwig Görranson. Depois de ter colaborado assiduamente com Hans Zimmer, o realizador apostou neste jovem compositor que já tinha dado cartas em "Pantera Negra". Görranson confirma ter estado sempre a par da produção e em contacto permanente com Nolan.
"Quatro meses antes da rodagem já estava a trabalhar. Quando li o guião, percebi que estava perante um mundo novo e diferente. O som tinha de refletir essa realidade. Daí ter criado um som distinto do habitual. Usei instrumentos clássicos, mas manipulei o som de tal forma, que a fonte se tornou impercetível. Vi o filme 40 vezes. Quis que a música funcionasse de forma coesa com a narrativa e o design do som."