O Centro Cultural Vila Flor (CCVF), em Guimarães, comemora, no sábado, 17 anos de existência com o regresso do coreógrafo Christos Papadopoulos.
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O que aconteceria se nunca acontecesse nada? Numa sociedade dependente da voracidade, em que mais importante do que acontecer é que aconteça muita coisa e já, a Natureza e os seus tempos são um ato de resistência.
O coreógrafo grego Christos Papadopoulos explora esses tempos dilatados e gestos minimais ao máximo, nas suas criações. Em "Elvedon" coreografia de 2017 usou as intermináveis ondulações do oceano; em "Ion", produção de 2019 usou os movimentos de enxames de insetos e bandos de pássaros, para mostrar ao público, átomos eletricamente carregados, um dos menores níveis de vida, mostrando-nos que nem sempre é melhor olhar para a "big picture", mas sim ter atenção ao detalhe.
A sua criação que sobe, este sábado, ao centro da Festa de aniversário do CCVF, toma de empréstimo o nome da plataforma de gelo da Antártida, "Larsen C".Com mais de 10 mil anos está a desmoronar lentamente, tão lentamente que não se pode observar, mas não significa que não seja efetivamente uma catástrofe a acontecer. Essa transição, como a vida mesma, pode ser acelerada ou precipitada se alterarmos a nossa perceção, através de uma cadência visual ou sonora. É sobre essa fase de transição sobre esse abraço da decadência que se debruça a sua nova proposta.
Os bailarinos trabalhando a precisão ao limite conseguem criar uma linguagem orgânica minimal, capaz de criar uma onda de choque, uma experiência hipnótica que convida à reflexão. Para que o espetáculo, (sábado 21.30 horas) não seja um ato isolado, surge associada a uma iniciativa de plantação de uma árvore por cada espectador, numa colaboração com o Laboratório da Paisagem e o projeto "Guimarães mais Floresta".
A Oficina, estrutura de programação do CCVF é membro da rede europeia de dança contemporânea, Aerowaves e foi justamente Papadopoulos que inaugurou esta sinergia com Portugal, em 2019, com a obra "Opus".
Christos Papadopoulos formou-se, em 2003, na Escola de Desenvolvimento da Nova Dança (SNDO) da Universidade de Artes de Amesterdão (Holanda) e em 1999 na Escola Dramática do Teatro Nacional da Grécia. Enquanto intérprete, participou em projetos de dança de vários criadores, entre os quais o grego Dimitris Papaioannou (presença regular em Portugal). Entre outros destaques, Christos Papadopoulos integrou a equipa de coreógrafos responsável pela cerimónia de abertura dos Jogos Europeus, em Baku (Azerbaijão, 2015) e pelas cerimónias de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos em Atenas (Grécia, 2004).
"Larsen C" constitui o regresso de Christos Papadopoulos ao CCVF, depois de aqui ter apresentado o espetáculo "Opus", em outubro de 2019.