Yayoi Kusama em Nova Iorque, Carme Pinós em Madrid, Paula Rego em Londres, Simone de Oliveira no Porto, Amanda Gorman onde quiser.
Corpo do artigo
A excêntrica e poética Yayoi Kusama, de 92 anos, é uma espécie de Joana Vasconcelos japonesa. O seu fascínio pela natureza está inscrito no ADN das suas múltiplas monumentais esculturas e transformou-a numa das artistas contemporâneas mais populares do mundo. Popular ao ponto de haver quem vá propositadamente a Naoshima, uma ilha irreal de tão bonita, situada entre Tóquio e Quioto, inteiramente dedicada à arquitectura e à arte, onde se encontram duas das suas abóboras gigantes: a amarela, perto do Benesse House, e a vermelha, logo à chegada, no porto.
Não é uma paródia freak-turística visitar esta ilha nascida do sonho de um multimilionário que em 1985 decidiu investir a sua fortuna na cultura e na educação dos outros, é mesmo uma das experiências mais bonitas e sensiveis que pode ter-se. Na impossibilidade de fazer uma viagem ao Japão a curto prazo, vale a pena arriscar ir ao jardim botânico de Nova Iorque. A obra de Kusama, mulher invulgar que há 40 anos decidiu internar-se numa instituição psiquiátrica e dedicar-se excluivamente à arte para combater pensamentos suicidas e as alucinações que tem desde a infância, vai lá estar a partir deste fim de semana. A mostra, que demorou três anos a montar, chama-se "Kusama: Natureza Cósmica".
Se também não puder ir a Nova Iorque, tente pelo menos dar um salto a Madrid. Carme Pinós, uma das arquitetas contemporâneas mais notáveis de Espanha, é objeto, aos 66 anos, da sua primeira retrospetiva no Museu ICO. Numa curta entrevista ao "El País", este domingo, a mulher que gostava de ter sido Le Corbusier, explica as três regras fundamentais de uma obra arquitetónica: luz natural, circulação de ar, generosidade de espaço.
"Cenários para a vida", a exposição cossissariada por Luis Fernández-Galiano, inaugura no dia 9 de maio e contempla mais de 80 trabalhos da arquiteta barcelonesa.
Não menos excêntrica do que Kusama, nem menos reconhecida do que Pinós, Paula Rego, a maravilhosa artista portuguesa de 86 anos que vive em Inglaterra há várias décadas mas que continuou sempre a inspirar-se na realidade nacional para criar - colagens, gravuras, pinturas, esculturas -, volta a estar no centro das atenções do Tate Britain, em Londres, talvez o equipamento cultural do mundo que sempre melhor a tratou. O museu inaugura a 7 de julho uma nova retrospetiva do seu trabalho, que apresenta como a mais exaustiva realizada até agora. Ao todo, são mais de 100 trabalhos, com início na década de 50.
Se entrar num avião está completamente fora do seu raio de ação, desloque-se ao Porto, no dia 30 deste mês, sob pena de arrepender-se para sempre, e assista ao último espectáculo de Simone de Oliveira, uma das mulheres mais arrojadas, talentosas, charmosas e corajosas do panorama artístico português. A artista que sobreviveu a tudo, incluindo à pequenez do país, anunciou que vai despedir-se dos palcos no espetáculo "We are together", no Coliseu, um concerto solidário que vai juntar vários artistas nacionais e cujas receitas revertem para o IPO e para a União Audiovisual.
Se está decidido a não sair do sofá, então viaje dentro da sua cabeça - talvez não cidade mais imperdível do que essa - levando consigo a poesia da jovem ativista Amanda Gorman, que a Editorial Presença vai traduzir e publicar em português na primeira metade deste ano.