Produção portuguesa atingiu volume e visibilidade nunca antes vistas. Além da nomeação ao Oscar de “Ice merchants”, este ano fizeram-se quatro longas-metragens
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Para o cinema português de animação, 2023 foi um ano de celebração e de conquistas, e um dos momentos-chave foi a nomeação da curta-metragem “Ice nerchants”, de João Gonzalez, para os Oscars.
O ano não se pode resumir àquele momento, ainda que seja um marco para o cinema português, mas a verdade é que “Ice merchants” lançou um potente foco sobre o nosso cinema e audiovisual de animação, a celebrar 100 anos de existência.
“Ice merchants” não venceu a estatueta dourada, mas já acumula mais de 130 prémios, foi exibido em mais de 300 festivais e foi alvo de uma inédita operação de exibição no circuito comercial, tendo em conta que é uma curta-metragem.
Quatro longas num ano
Segundo contas do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA), “Ice merchants” foi, este ano, o quarto filme português mais visto nas salas de cinema, com 13 944 espectadores. Somando todos os locais e festivais onde foi exibido, o pequeno drama de João Gonzalez ultrapassou 255 mil espectadores.
Por ser um trabalho moroso, de montagem financeira e produção lenta, 2023 foi ainda um ano excecional, porque ao circuito comercial chegaram três longas-metragens portuguesas de animação e uma com coprodução nacional.
Foram elas “Nayola”, de José Miguel Ribeiro; “Os demónios do meu avô”, de Nuno Beato; “O Natal do Bruno Aleixo”, de Pedro Santo e João Moreira (estreado no final de 2022 e com exibição estendida para 2023); e, por fim, “Interdito a cães e italianos”, de Alain Ughetto.
Em outubro, quando preparava a Festa da Animação, a diretora da Casa da Animação, Regina Machado, fazia já uma retrospetiva de 2023: “Estamos no nosso melhor ano, a partir de agora vai ser continuar”.
“Ganhar o respeito pelo público foi muito importante e que o público perceba que o cinema de animação não é só para crianças e que nos leva lá fora como quase nenhum outro formato nos leva”, disse.
Não havendo ainda dados estatísticos fechados sobre 2023, o ICA indica que estão atualmente em curso, em diferentes etapas de produção, quase 60 obras de cinema de animação, entre séries, longas e curtas.
É preciso investir mais na indústria
Resta ainda saber o calendário dos concursos de apoio financeiro de 2024 e quais as prioridades de distribuição das verbas entre cinema e audiovisual, entre ficção, documentário e animação.
“Se o Ministério da Economia investe na indústria do calçado ou têxteis, por que não investe na nova indústria da animação?”, pergunta o realizador José Miguel Ribeiro, autor de “Nayola”.
Bruno Caetano, produtor de “Ice merchants”, também deixa interrogações: “A animação portuguesa está no topo do mundo! São poucos os países que têm filmes com tantos prémios em tantos festivais. Como é que nós, o parente mais pobre, conseguimos fazer isto? Às vezes com muito esforço”.
Em 2024, Portugal será o país em destaque no Festival de Annecy, França, um dos mais importantes do mundo no cinema de animação.