Miguel Gomes vence Prémio de Realização por “Grand Tour”. Daniel Soares conquista Menção Especial de curta-metragem. Sean Baker conquista Palma de Ouro.
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Foi Wim Wenders que subiu ao palco de Cannes para apresentar o Prémio de Realização. Ainda sem saber em que recaíra a escolha do júri, o alemão referiu que realizar um filme é hoje em dia uma ainda maior responsabilidade. Foi então que o júri anunciou a grande notícia para o cinema português, Miguel Gomes vence um dos prémios maiores de Cannes, com o seu “tour” asiático, entre um oficial britânico em fuga da noiva e a perseverança com que esta o persegue. Num magnífico preto e branco e com uma estrutura narrativa à Gomes o filme é um justo vencedor deste prémio maior de Cannes.
No palco, Miguel Gomes começou por assumir que “por vezes tenho sorte”, agradecendo depois ao Festival de Cannes pela seleção do seu filme. Afirmando ter a sensação de estar sozinho em palco, chamou toda a sua equipa, “que me permitiu realizar este filme.” E continuou, celebrando a nossa cinematografia. “ Obrigado ao cinema português. Não vou fazer comentários sobre a ausência de filmes portugueses na competição. Sei de onde venho. Há grandes mestres como Oliveira, que me inspiraram a fazer filmes”, concluiu.
Na competição de curtas-metragens, Daniel Soares mereceu uma Menção Especial do júri, presidido pela atriz Lubna Azabal, com o seu pequeno mas poderoso “Mau Por um Momento”.
"Foi uma sensação muito boa, estamos todos muito contentes. Mesmo ser selecionado já foi muito bom. É uma conquista muito importante. Temos feito grandes filmes nos últimos anos. Vencer dois prémios em Cannes é um pouco de sorte e fruto de várias circunstâncias. Estou muito feliz por fazer parte deste momento do cinema português. O que quero é voltar para casa, continuar a escrever e a contar outras histórias", disse o realizador aos jornalistas, ainda visivelmente emocionado.
Depois do momento emotivo do encontro no palco entre Francis Ford Coppola e George Lucas, com o criador da saga “Star Wars” a ser homenageado com uma Palma de Ouro de carreira, o júri presidido por Greta Gerwig anunciou finalmente a Palma de Ouro de Cannes 2024.
E a Palma foi para “Anora”, de Sean Baker, sobre uma jovem trabalhadora de sexo que acaba por casar em Las Vegas com um russo imberbe, filho de uma família de oligarcas, que vem aos Estados Unidos resolver a situação. Um filme bem feito e interpretado, com grande força dramática, mas um filme eminentemente comercial, muito longe da tradição artística de Cannes.
Com outra ideia para a Palma de Ouro, o júri decidiu criar um Prémio Especial para celebrar a liberdade e reafirmar a necessidade de luta contra todas as censuras, através do filme “The Seed of the Sacred Fig”, que Mohammad Rasoulof conseguiu vir mostrar a Cannes, depois de fugir do Irão, onde fora condenado a oito anos de prisão.
Payal Kapadia disse apreciar imenso o cinema de Miguel Gomes, ao receber o Grande Prémio do Júri, com “All We Imagine As Light”.
O filme de terror “The Substance”, realizado nos Estados Unidos pela francesa Coralie Fargeat, com uma fabulosa Demi Moore, venceu o prémio para Melhor Argumento.
No campo das interpretações, o júri decidiu inovar, como acontece quase sempre, atribuindo o prémio ao conjunto de atrizes do filem “Emilia Perez”, de Jacques Audiard: a atriz trans espanhola Karla Sofia Gascón, Zoe Saldaan, Selena Gomez e Adriana Paz. O filme conferiu ainda o Prémio do Júri ao seu realizador, Jacques Audiard.
Quanto às interpretações masculinas, a escolha do júri recaiu em Jesse Plemons, de Yorgos Lanthimos, que não fica atrás, muito pelo contrário, à prestação de Willem Dafoe e Emma Stone.
A Camera d’Or, que distingue o melhor primeiro filme, exibido em qualquer das secções oficiais do festival, foi entregue a “Armand”, produção norueguês realizada por Halfdan Ullmann Tøndel, que tem a particularidade de ser neto de Ingmar Bergman e de Liv Ullmann. O cinema renova-se, pode ser a mensagem de Cannes 2024.
O palmarés
Palma de Ouro
“Anora”, de Sean Baker
Prémio Especial do Júri
Mohammad Rasoulof, por “The Seed of the Sacred Fig” (Irão)
Grande Prémio do Júri
“All We Imagine As Light”, de Payal Kapadia (India)
Prémio do Júri
“Emilia Perez”, de Jacques Audiard
Melhor Realização
Miguel Gomes, por “Grand Tour”
Melhor Argumento
The Substance, de Coralie Fargeat (França)
Melhor Ator
Jesse Plemons, por “Kinds of Kindness”, de Yorgos Lanthimos
Melhor Atriz
Ao conjunto de atrizes de “Emilia Perez”
Camera d’Or
Armand, de Halfdan Ullmann Tøndel (Noruega)
Melhor Curta-metragem
The Man Whou Could