Começa este domingo na cidade francesa de Annecy o mais importante festival de animação do mundo.
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São já 48 as edições do Festival de Cinema de Animação de Annecy, considerado o “Cannes” do mundo de animação e o cinema português já lá fez história. Para não se ir mais longe, o ano passado esta bela cidade nas margens do Lago Annecy, rodeada de montanhas e considerada a Veneza dos Alpes, recebeu as duas primeiras longas-metragens de animação portuguesas, “Os Demónios do Meu Avô”, de Nuno Beato e “Nayola”, de José Miguel Ribeiro.
Numa altura em que ainda se sentem os ecos das celebrações do centenário da animação portuguesa, aventura que simbolicamente se estima ter sido iniciada em 1923 com a sátira política “O Pesadelo de António Maria”, de Joaquim Guerreiro, a edição deste ano de Annecy, que tem início hoje e se estende até ao próximo dia 15, tem logo para começar um belo cartaz desenhado por Regina Pessoa.
Vencedora do Grande Prémio do festival em 2006 com “História Trágica com Final Feliz” e do Prémio do Júri em 2019, com “Tio Tomás, a Contabilidade dos Dias”, a realizadora portuguesa será ainda a mecenas do Le Campus MIFA, o mercado do filme de animação. Regina Pessoa dará também uma Masterclass durante o festival, integrado numa série de eventos ligados à animação portuguesa.
Portugal é sobretudo o país convidado deste ano do festival, propondo uma retrospetiva com curadoria de Fernando Galrito, diretor do Festival Monstra, composta por sete programas e mais de seis dezenas de animações. Em paralelo, há duas novas curtas na seção oficial, “Percebes”, de Laura Gonçalves e Alexandra Ramires, e “Amanhã Não Dão Chuva”, de Maria Trigo Teixeira
Produção da BAP – Animation Studios, em coprodução com a França e em competição, “Percebes” volta a juntar as duas realizadoras num projeto de animação, depois de “Água Mole”, que tem o mar e a paisagem urbana do Algarve como pano de fundo de uma história onde se segue o ciclo de vida completo de um crustáceo chamada Percebes.
Quanto a “Amanhã Não Dão Chuva”, será exibido na seção Perspetivas. Produção da AIM – Creative Studios, em coprodução com a Alemanha, segue-se na obra de Maria Trigo Teixeira a “Inside Me”, que a realizadora produziu precisamente na Alemanha, em contexto escolar, sobre a questão da interrupção voluntária da gravidez. Neste novo filme, acompanhamos Oma, cujas perceções começam a mudar, à medida que envelhece. Enquanto a filha se esforça por se adaptar à sua nova situação, Oma parece afundar-se cada vez mais dentro de si própria.
Ainda na competição, destaque também para um filme francês, em coprodução com a portuguesa Animais AVPL. “Mont Noir”, de Jean-Baptiste Peltier e Erka Haglund, centra-se na pequena Margarida, que sofre um triplo luto: da mãe, que morre no parto, do cão que herda e depois da ama, despedida pelo pai. A partir destas perdas sucessivas, na solidão e na natureza do Mont Noir, Margarida prepara-se para se tornar escritora.
Os Programas Especiais prestam homenagem à animação portuguesa com um total de 61 curtas-metragens, divididas em 7 programas: Abi & Regina, uma História Feliz; BAP Animação, um Estúdio Cooperativo; 100 Anos, Três Gerações; As Mulheres na Animação Portuguesa; O Percurso de um “Suspeito” e Companhia; O Novo Século; Uma Nova Geração.
Portugal também marca presença nos júris, contando com José Miguel Ribeiro, na categoria de Longa Metragem Contrechamp, e David Doutel, na categoria Obras VR. O Mercado do Filme terá também uma forte presença portuguesa, com um pavilhão que aclhe nada menos que 18 estúdios de animação profissionais portugueses.