Cláudia Varejão e Luciana Fina vão estrear os seus últimos trabalhos. “Beetlejuice Beetlejuice” abre certame.
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Começa amanhã e desenrola-se até ao próximo dia 7, na ilha do Lido, em Veneza, a 81.ª edição do que é o mais antigo dos importantes festivais de cinema do Mundo, fechando o tríptico anual iniciado em fevereiro, em Berlim, e que passou em maio por Cannes.
Depois de precisamente no festival francês Miguel Gomes ter recebido das mãos de Wim Wenders o Prémio de Melhor Realização por “Grand tour”, com estreia nacional marcada para o próximo dia 19 de setembro, Veneza vai acolher duas produções portuguesas, em ambos os casos na secção paralela Giornate degli Autori.
Fora já nessa prestigiada secção que Cláudia Varejão conquistara o prémio de melhor filme em 2022, com “Lobo e cão”, regressando agora com a curta-metragem “Kora”, uma produção da Terratreme.
Segundo informação prestada pela produtora, o documentário, de 29 minutos, traça a silhueta de mulheres refugiadas a viver em Portugal, tendo entre si em comum o seu passado, no corpo e nas palavras, bem como aqueles que amam impressos em retratos. Do grupo captado pela câmara da realizadora fazem parte mulheres oriundas da Ucrânia, Afeganistão, Sudão, Rússia e Síria.
Italiana, há muito a viver e a trabalhar em Portugal, Luciana Fina incorpora o seu cinema numa perspetiva mais lata de abordagem das artes visuais. É nesse sentido que “Sempre”, que vai ser visto em Veneza, é a versão para ecrã de cinema de uma instalação encomendada pela Cinemateca Portuguesa para comemorar os 50 anos da Revolução de Abril. Quem a viveu ou estudou sabe que uma das mais recorrentes palavras de ordem, ainda hoje atual, era precisamente “25 de Abril, sempre!”. Entre outras questões, o trabalho de Luciana Fina aborda a repressão da ditadura do Estado Novo, o processo revolucionário que se sucedeu e a descolonização.
Ainda por terminar
No mercado dedicado a projetos em finalização, será apresentado “Projeto global”, filme e série de Ivo M. Ferreira, produzido por O Som e a Fúria, que também leva ao mercado a coprodução “Jealous white men”, de Ivan Granovsky. À procura de financiamento estará também “Last night I conquered the city of Thebes”, de Gabriel Azorín, coprodução espanhola com a portuguesa Primeira Idade.
Ansiados regressos
O festival abre amanhã com a apresentação de “Beetlejuice Beetlejuice”, com que o realizador Tim Burton e o ator Michael Keaton regressam à personagem, mais de três décadas e meia depois.
Sigourney Weaver, a Ripley dos primeiros “Alien”, entre tantas outras personagens inesquecíveis, receberá um Leão de Ouro de carreira. Quanto à corrida pelo tão desejado Leão de Ouro, será feita entre 21 realizadores, destacando-se a presença de nomes como os de Pedro Almodóvar, cujo “The room next door” conta com a participação de Tilda Swinton, Julianne Moore e John Turturro, de Todd Phillipe, com “Joker: folie à deux”, onde Joaquin Phoenix tem agora a companhia de Lady Gaga, do brasileiro Walter Salles, que junta Fernanda Torres e Fernanda Montenegro em “Ainda estou aqui”, ou de Wang Bing, que completa a sua trilogia com “Youth: homecoming”, iniciada em Cannes e passada também por Locarno.
O chileno Pablo Larraín apresenta uma coprodução entre Itália, Alemanha e Estados Unidos, “Maria”, com Angelina Jolie, com a importante esquadra italiana a ser ainda composta por Luca Guadagnino, que estreia “Queer”, com Daniel Craig e Jasoon Schwartzman, ou Gianni Amelio, com “Campo di battaglia”.
Do muito cinema para descobrir nas outras secções ou fora de competição encontram-se ainda filmes de upi Avati, Marco Bellocchio, Lav Diaz, Takeshi Kitano, Harmony Korine, Kiyoshi Kurosawa ou Claude Lelouch. Na secção Orizzonti poderão encontrar-se novos valores de um cinema que se deseja em permanente renovação, mas o festival não esquece os clássicos, com uma programação dedicada a filmes restaurados, bem como o que hoje se designa por Cinema Imersivo. Tudo para ver nos próximos dias, em Veneza.