Estreiam esta quinta-feira nas salas nacionais “Ubu”, de Paulo Abreu, e “A Pedra Sonha Dar Flor”, de Rodrigo Areias.
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O cinema português vive um bom momento. Além de presença constante em grandes festivais, com ficções, documentários e animações, o mês de setembro está a assistir a uma dezena de estreias em sala.
Há, pois, criadores a criar, produtores a produzir, e fundos a apoiar. Falta o público, como sempre, numa relação de divórcio permanente que é caso de estudo e única praticamente em todo o mundo.
Face aos dois filmes que hoje estreiam, pede-se uma oportunidade, seguramente que não vão desiludir. Há aliás alguns pontos em comum entre “Ubu”, de Paulo Abreu, e “A Pedra Sonha Dar Flor”, de Rodrigo Areias: ambos são baseados em obras literárias, foram produzidos e filmados fora do círculo do poder do cinema português, situado na capital, e têm o mesmo diretor de fotografia, alguém cujo percurso nunca é demais salientar, Jorge Quintela.
“Ubu”, de Paulo Abreu, baseia-se na obra homónima de Alfred Jarry, peça mais conhecida deste francês de vida efémera. Situado numa Polónia imaginária, trata-se de uma reflexão grotesca e muito atual sobre o poder autocrático.
No Rei Ubu podemos ver figuras como as de Trump ou Bolsonaro, na imagética de Paulo Abreu sente-se a influência do universo shakespeariano, ou das versões fílmicas assinadas por Orson Welles. Com a cumplicidade e o génio de Miguel Loureiro e Isabel Abreu.
Quanto a “A Pedra Sonha Dar Flor”, é um regresso de Rodrigo Areias ao universo literário de Raúl Brandão, depois de “Hálito Azul”. Como aí, cruzam-se vários textos do autor, tecendo um registo poético sobre a relação entre criador e criação, vida e morte, sonho e realidade.
A uma sentida declaração de amor à Ria de Aveiro, junta-se ainda uma ideia de cinema para além do cinema, com uma série de cine-concertos já agendados com o compositor da banda sonora do filme, o também vimaranense Dada Garbeck. Dois filmes para ver, enquanto é tempo.