Normas para salas culturais deverão ser anunciadas esta semana. Setor a postos, mas apreensivo.
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Total colaboração com as autoridades sanitárias é o que prometem os teatros públicos portugueses e as salas de cinema no momento da eventual reabertura. Alguns operadores privados, como o produtor Paulo Branco, avisam, no entanto, que sem a garantia de um mínimo de rentabilização, a reabertura não será viável.
As medidas concretas a adotar só deverão ser conhecidas depois do Conselho de Ministros de quinta-feira mas, em entrevista ao "Expresso", António Costa destapou algumas das condições que poderão vir a ser impostas, como a "lotação restrita" e a venda de bilhetes de "duas em duas filas, de três em três cadeiras".
Do lado dos cinemas, surgem algumas preocupações. Américo Santos, responsável pelo Cinema Trindade, no Porto, diz que uma "lotação abaixo dos 50% será inviável, ainda para mais se as restrições implicarem novos gastos, como a adaptação das salas e as medidas de higiene." Lembra ainda que "o impacto de ter só um terço de público é diferente numa sala para 500 pessoas e noutra só para 80." O produtor Paulo Branco, responsável pelo Cinema Nimas, em Lisboa, gostaria de reabrir já em junho, mas coloca duas condições fundamentais: "não haver risco para o público e estar salvaguardado um mínimo de rentabilização."
Simão Fernandes, presidente da Associação Portuguesa de Empresas Cinematográficas (APEC), que representa 450 das 583 salas de cinema em Portugal, a sua maioria em multiplex, confia que as medidas iniciais serão apenas um "arranjo", podendo haver "alterações progressivas e aumento da lotação." Mas, apesar dos cinemas terem condições para um "atendimento controlado", como a venda automática de bilhetes ou a distribuição de espetadores, lembra que não beneficiam de qualquer linha específica de apoio e que os custos fixos mensais dos cinemas da APEC são de três milhões de euros. As receitas, em 2019, rondaram os 110 milhões de euros. Este ano, diz Simão Fernandes, trata-se de "manter vivo este setor fundamental".
Teatros reabrem em setembro
Em relação aos teatros públicos, e apesar de não haver ainda data definida para a reabertura, Tiago Rodrigues, diretor do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, admitiu que "o cenário é retomar a atividade pública em setembro", frisando a importância de uma "reabertura concertada de todos os teatros públicos." Recorde-se que também o Teatro Municipal do Porto anunciou, em comunicado, a intenção de reabrir em setembro.
Tiago Rodrigues considera que os próximos dias serão determinantes, mas diz que "o estudo para a reabertura está ser feito desde o encerramento" e que o"diálogo com a tutela tem sido constante." O diretor, que diz ser ainda "impossível medir o real impacto da pandemia ao nível orçamental e artístico", tem também estabelecido contactos com companhias e instituições internacionais no sentido de perceber quais "as boas práticas que estão a ser desenvolvidas." Nuno Cardoso, diretor do Teatro Nacional São João, no Porto, aguarda "as instruções do ministério para agir em conformidade."