Clubes de música com programação cultural querem que mais câmaras sigam o exemplo da de Lisboa, que atribuiu 600 mil euros a 12 espaços. Acesso a fundos europeus abre janela de oportunidade.
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Foram os primeiros a sentir os efeitos da pandemia, mas, nove meses depois do início da crise, a hora ainda não é a da retoma para os 27 clubes e salas com programação cultural própria. Através da rede Circuito, têm sido encetados contactos para que mais autarquias possam seguir o exemplo da de Lisboa, que, na quinta-feira, aprovou a atribuição de um apoio excecional de 600 mil euros a uma dúzia de espaços, destinados a minorar a crise profunda que assola o setor.
Segundo Daniel Pires, gestor do Maus Hábitos e membro da direção da Circuito, "havia abertura da Câmara do Porto para que um acordo idêntico fosse alcançado, mas acabou por não concretizar-se", escusando-se a especificar o montante dos apoios.
Fonte da autarquia portuense adiantou ao JN que a Câmara está a aguardar ainda por novas medidas governamentais para que possa depois decidir em conformidade. Confirmando a existência de reuniões com responsáveis das salas, a edilidade frisou que está a ser avaliado um novo programa de apoio a estes locais.
Coincidência ou não, a Invicta tem sido das cidades cujos clubes e salas se têm mostrado mais vulneráveis ao impacto da pandemia. Da meia dúzia de espaços existentes, só o Maus Hábitos e o Passos Manuel vão mantendo alguma atividade e, segundo a Circuito, "é muito provável" que alguns dos locais fechados desde março já não reabram.
Dívidas e desemprego
Não deverá ser esse o caso do Plano B. Apesar de Filipe Teixeira, sócio-gerente, afirmar que, enquanto vigorar o estado de emergência, "não vale sequer a pena pensar em reabrir", há a esperança de voltar à atividade ainda durante o primeiro semestre de 2021. "Estamos a acumular dívidas astronómicas desde que fechámos. Ainda não despedimos ninguém, mas teremos que reavaliar a situação nos próximos meses", assegura.
A incerteza quanto ao próximo ano é grande, mas a calendarização de atividades já está a ser feita. No Musicbox, o seu gestor, Gonçalo Riscado, prevê que a partir de março seja visível uma programação regular, ainda que muito sujeita a restrições, como o uso de máscara e o limite na lotação. "Só prevemos uma normalização relativa a partir de setembro", avança.
Nos poucos espaços que se mantiveram abertos nos últimos meses, a reinvenção foi a palavra de ordem. Exemplo paradigmático foi o Maus Hábitos. Entre segunda e sexta-feira, decorrem ciclos temáticos dedicados ao cabaré, poesia, fado, cinema e comédia, permitindo "a reaproximação de um público maduro que há muito tinha deixado de vir", conta Daniel Pires. O resultado foi de tal forma positivo que, mesmo depois de superada a pandemia, "vamos continuar com a programação à mesa".
No meio da tempestade dos últimos meses, a união entre os empresários do setor foi uma das poucas boas notícias recebidas. A criação da Circuito veio permitir ainda que Portugal passasse a estar inscrito na Live DMA, plataforma que congrega três mil entidades musicais de 17 países europeus. As perspetivas reforçadas de trabalho em rede e o acesso a verbas comunitárias são duas das potenciais vantagens trazidas pela inscrição nesta plataforma.
Crise
Já são quatro as salas com destino incerto
A antiguidade de pouco valeu quando a pandemia bateu à porta do Club de Vila Real.
A celebrar 125 anos, a histórica associação não resistiu à prolongada inatividade e, após cinco meses de rendas por regularizar, teve que abandonar, no passado mês de agosto, as instalações localizadas na Avenida Carvalho Araújo, continuando ainda a subsistir como associação.
No Porto, há quatro espaços - Barracuda, Ferro, Woodstock 69 e Plano B - que estão fechados e cuja continuidade em alguns casos é ainda uma incógnita.
Para assegurarem a sobrevivência, muitos dos espaços estão a promover iniciativas excecionais, como sorteios, leilões ou venda de discos e material diverso.